A luz iluminava cautelosamente a lamina a raspar a pele do rosto ainda novo mas envelhecido no espelho a sua frente. Fazia barba de modo lento, não por medo de cortar-se mas porque de manhã nada conseguia fazer a outro ritmo. Levantava-se maquinalmente com uma dor nas costas, tensão lancinante nos ombros que mal lhe permitia equilibrar-se naqueles primeiros momentos vespertinos. Em pé cerrava os olhos, deixava cair a cabeça já cansado e buscava no modo de estar alienado forcas para tomar banho e começar mais um dia. Era como se fosse prisioneiro e marcasse na parede a contagem dos dias. A diferença é que a prisão era a sua cabeça, os dias passavam mas não tinha expectativas de liberdade e o crime que cometera fora contra si mesmo. Com a barba feita, lavou os dentes e em seguida vestiu-se de forma desapegada, como se caminhasse para o vazio. Comeu, por necessidade e não por fome, em silêncio, na cozinha branca e perfeitamente limpa. Não queria acordar a mulher, em paz
Stuck In Reverse