Há uns anos, o companheiro de uma conhecida (portuguesa), americano, a viver em Portugal já há algum tempo, e mesmo antes de se fazerem à vida e terem voltado aos states, dizia-me que o que gostava menos nos portugueses com quem mais convivia era a preocupação com as aparências. O rapaz antes estudara e vivera na Bélgica e em Inglaterra e os portugueses, com quem se dava, e com quem media comparações, eram os colegas do trabalho.
A bem da verdade, na altura, aquilo soou-me uma pitada de superioridade. Mas concluo, sem pejo, que ele tinha razão. Não quer dizer que noutros países as pessoas não vivam para as aparências, lógico, pelas mais diversas expectativas ou aspirações sociais, moldadas, ou não, em traços culturais.
No entanto, café é café, conhaque é conhaque. As pessoas preocupam-se mais em parecer cheias de trabalho, do que efectivamente despachar de modo eficaz o trabalho que têm. Há o clássico ficar até mais tarde no escritório a encher chouriços apenas porque "cai mal" sair antes do colega A ou B ou antes do chefe (é real, conheço quem o faz e assuma que se não o fizer pode ser penalizado - não sabe como, mas dos comentários não se livram!). Há quem se queixe dia após dia que está assoberbado mas qualquer momento serve para fazer uma pausa e ir-se queixar para outros pisos; ou fazer almoços de duas horas; ou prolongar reuniões infrutíferas para se ouvirem falar... Há quem se lamente porque as coisas não lhe estão a ser favoráveis, projectando uma imagem de alguém subaproveitado mas na verdade não faz nada para mudar, não demonstra proactividade, capacidade de inovar, mostrar valências. Há quem perante uma pergunta súbita, sem saber a resposta, prefere atirar para o ar informações inexactas, e vir a gerar problemas, do que assumir que não sabe, mesmo que seja para lá de sua obrigação saber.
Se replicarmos na nossa vida pessoal, os exemplos multiplicam-se. Mas em contexto de trabalho, o parecer sem ser afecta irremediavelmente o trabalho de quem faz, sem buscar aparência, alem de que inquina a produtividade global. E, pior, o parecer apenas por parecer denota falha de carácter.
Isto tudo, porque nesta semana me disseram que parecia mal uma coisa que eu faço (e não está em causa se é legitima ou não a critica) na minha vida pessoal e a metáfora usada para ilustrar (para eu entender) foi recorrer a um exemplo de trabalho, em abstracto. E eu vi a pessoa que me deu o conselho de outro modo. Imaginei-a no seu local de trabalho.
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