Hannah Arendt, filosofa judia alemã que viveu nos EUA, fugida da Europa anti-semita, teve a coragem de pensar por si e manter-se fiel aos seus raciocínios por mais contestados que fossem. Por mais lhe custassem amizades e lhe gerassem ataques de carácter. Quando tudo o que quis foi compreender e compreender não é perdoar.
A sua teoria da "banalidade do mal", desenvolvida após o julgamento de Albert Eichmann, raptado em Buenos Aires e julgado em Israel por crimes nazis (já de si, a legitimidade do exercício da justiça é questionável), assenta em pessoas que não são más por natureza, mas apenas "Zé-ninguens" que abdicaram da sua capacidade de discernimento. Eichmann, como outros burocratas nazis, revelavam incapacidade de pensar. Sem a força corrosiva e desconstrutiva do pensamento, qualquer acção é possível, qualquer lei pode ser racionalmente justificada, qualquer acto é aceitável: aqueles homens, mulheres e crianças morreriam de qualquer maneira, quer Eichmann ordenasse a saída dos comboios ou não. E como não pensava, não questionava as ordens que recebia. Mesmo não tendo nada contra aquelas pessoas, mesmo não tendo razões ulteriores anti semitas.
Isto é tão fácil de perceber. Agora. Mas curiosamente hoje em dias as pessoas continuam a abdicar de não pensar, preferem o "não sei", não ter opiniões, escudarem-se em entretenimento fácil que amorteça o cansaço da vida diária e as faça descomprimir com aberrações perversas na televisão ou mesmo no que lêem, que não as faça pensar, que não lhes aporte nada.
Pensar é subversivo. É fundamental.
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