Há momentos que pedem para não alimentar animosidade, mais vale retrair uma opinião do que chocar de frente com alguém que não está na situação ideal para encaixar um confronto de ideias. Há momentos para dizer pouco, mas dizer tudo, falar baixo, devagar mas transmitir tudo o que o outro necessita. Há momentos que exigem que não haja complacência, se enfrente a coisa com dureza, rigor de critérios e objectividade de argumentos, não dando espaço para debate ou contraponto. Há momentos que a vaidade não tem qualquer espaço ou aceitação, há um pudor de respeito pelos demais que naturalmente clama de forma indelével, nem sequer é preciso explicar que não é a altura para puxar dos galões e quem sabe, sabe. Há momentos para sofrer em silêncio. Há momentos para não deixar a indignação morrer calada que isto de só reclamar para o ar ou levantar voz perante os que nos são mais fracos é de uma cobardia atroz. Há momentos para pedir desculpa, que são devidas, que são importantes, porque temos direito de errar mas temos de o perceber. Há momentos para cortar laços com histórias e personagens que não nos aportam mais valias. Ha momentos em que não, não se pode abdicar das nossas opiniões, no que acreditamos só porque os que nos são próximos nos tentam demover, ou porque nos dá jeito: evoluir de ponto de vista não pode ser igual a ser oportunista ou ser inconsistente de pensamento ao sabor das conveniências. Há momentos para amadurecer esta base instalada de conhecimento mas em boa verdade, ou se tem estofo e verticalidade emocional, e respeito próprio e pelos demais, ou então, nada disto fará sentido.
Os Lambe Cus, by Miguel Esteves Cardoso "Noto com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da revolução de Abril. Situa-se na área da ginástica corporal e envolve complexos exercícios contorcionistas em que cada jogador procura, por todos os meios ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber o cu de um jogador mais poderoso do que ele. Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de um agente da polícia ou de um artista. O objectivo do jogo é identificá- los, lambê-los e recolher os respectivos prémios. Os prémios podem ser em dinheiro, em promoção profissional ou em permuta. À medida que vai lambendo os cus, vai ascendendo ou descendendo na hierarquia. Antes do 25 de Abril esta modalidade era mais rudimentar. Era praticada por amadores, muitos em idade escolar, e conhecida prosaicamente como «engraxanço». Os chefes de repartição engraxavam os chefes de serviço, os alun
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