Avançar para o conteúdo principal

Do segredo que destruiu




Todos temos segredos. Alguns nem sequer pensamos neles de tão recôndita é a sua existência na nossa profundeza e silenciosa obscuridão. 

Outros são pedaços avulso da nossa vida, lembranças que foram ficando de momentos em que libertámos energia. São nossos. Podemos ter partilhado com outros mas o impacto, o abalo, a satisfação, a penitência, o peso desse histórico é apenas nosso e de mais ninguém.

Há sempre um segredo que tem mais força sobre nós. Que nos esmaga o discernimento, a respiração, pelo qual questionamos tudo, onde vamos, se abandonamos tudo, se corremos riscos ou ficamos inertes no que é nossa realidade.

O meu segredo és tu. Toda a revolta que um dia minaste em mim, as sucessivas vagas de insatisfação que deste azo, a incapacidade de sentir com a mesma força, entrega, inocência, e imensa habilidade de acreditar, natural.

Contigo destruí tanto em mim. A imediatez cresceu para o calculismo. O brilho afectuoso foi ultrapassado pela pérfida da tesão. Crer passou a desprendimento. Contigo, com o segredo que está cosido em mim sob uma agulha e linha de dor, e com a tua mistura de desdém com arrebatamento e impossibilidade de sentir. Com a indisponibilidade para se dar ao outro, entender o outro, gostar do outro. Para gostares de mim. De receberes o que te dava e aceitar a reciprocidade.

O meu segredo foi uma lição. Um erro com efeito dominó. Um inacabado nó que se enlaçou em mim.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Os lambe-cus (MEC)

Os Lambe Cus, by Miguel Esteves Cardoso   "Noto com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da revolução de Abril. Situa-se na área da ginástica corporal e envolve complexos exercícios contorcionistas em que cada jogador procura, por todos os meios ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber o cu de um jogador mais poderoso do que ele. Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de um agente da polícia ou de um artista. O objectivo do jogo é identificá- los, lambê-los e recolher os respectivos prémios. Os prémios podem ser em dinheiro, em promoção profissional ou em permuta. À medida que vai lambendo os cus, vai ascendendo ou descendendo na hierarquia. Antes do 25 de Abril esta modalidade era mais rudimentar. Era praticada por amadores, muitos em idade escolar, e conhecida prosaicamente como «engraxanço». Os chefes de repartição engraxavam os chefes de serviço, os alun

Devo ser a unica mulher

Que gosta do Mr. Big. Pois que gosto.  Enquanto a Carrie era uma tonta sempre à procura de validação e de "sinais", a complicar, a remoer, ser gaja portanto, o Mr. BIG imperfeito as may be era divertido, charmoso, sedutor, seguro (o possível dentro do género dos homens, claro), pragmático.  E sempre adorou aquela tresloucada acompanhada de outras gajas ainda mais gajas e mais loucas.  Fugiu no dia do casamento? Pois foi. Mas casaram, não casaram? Deu-lhe o closet e um diamante negro.  Eu gosto mesmo muito do Mr. BIG. Alguma vez o panhonhas classe media do Steve? Ou o careca judeu que andava nu em casa? Por Sta. Prada, naooooooooo! 

Do acosso

Este calor que se abateu com uma força agressiva consome qualquer resistência.  O suor clandestino esbate vergonha e combate qual sabre as dúvidas.  A noite feita à medida de libertinos cancela as vozes interiores que alertam para mais uma queda dolorosa. A brisa quente atordoa, embriaga no contacto com a pele. O tempo pára, as palavras suspendem entre olhares que sustentam no ar tórrido toda a narrativa; qual pornografia sem mácula, mas plena de pecado. A lua cheia transborda e dá luz à ausência de sanidade que percorre no corpo. Tudo parece possível, uma corrente de liberdade atravessa-nos com o sabor do quente esmagado. E, mesmo assim, pulsa algo mais intenso. Mais derradeiro. Mais dominador. Mais perverso que o toque dos dedos. Mais agressivo que a temperatura irrespirável. O freio da impossibilidade.  A intuição luta com o medo e na arena o medo mesmo que picado tem sempre muita força. O medo acossa-nos.