Todos temos segredos. Alguns nem sequer pensamos neles de
tão recôndita é a sua existência na nossa profundeza e silenciosa obscuridão.
Outros são pedaços avulso da nossa vida, lembranças que foram ficando de
momentos em que libertámos energia. São nossos. Podemos ter partilhado com
outros mas o impacto, o abalo, a satisfação, a penitência, o peso desse
histórico é apenas nosso e de mais ninguém.
Há sempre um segredo que tem mais força sobre nós. Que
nos esmaga o discernimento, a respiração, pelo qual questionamos tudo, onde
vamos, se abandonamos tudo, se corremos riscos ou ficamos inertes no que é
nossa realidade.
O meu segredo és tu. Toda a revolta que um dia minaste em
mim, as sucessivas vagas de insatisfação que deste azo, a incapacidade de
sentir com a mesma força, entrega, inocência, e imensa habilidade de acreditar,
natural.
Contigo destruí tanto em mim. A imediatez cresceu para o
calculismo. O brilho afectuoso foi ultrapassado pela pérfida da tesão. Crer
passou a desprendimento. Contigo, com o segredo que está cosido em mim sob uma
agulha e linha de dor, e com a tua mistura de desdém com arrebatamento e
impossibilidade de sentir. Com a indisponibilidade para se dar ao outro,
entender o outro, gostar do outro. Para gostares de mim. De receberes o que te
dava e aceitar a reciprocidade.
O meu segredo foi uma lição. Um erro com efeito dominó.
Um inacabado nó que se enlaçou em mim.
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