Eu bem digo que o desporto não dá saúde a ninguém. Moi même, por exemplo está doente com a má índole das pessoas.
Tudo começou por ser uma ideia engraçada de treino em grupo, sem grande pressão, com pessoas normais, aka, sem estarem numa forma física de fazer inveja e com objectivos próximos.
À partida a minha única preocupação era que os demais já tinham 3 meses de avanço e portanto já tinham um ritmo muito mais acelerado. "Ah, não, e tal, o treinador acompanha-te, faz a transição" e tudo mais. Ahn, ahn!
Foi duro, o inicio foi de arrancar a alma, a raiz do cabelo, a solinha total dos pés. Mas estava super motivada e inspirada em levar a coisa adiante independentemente da logística semanal complicadissima e das horas de sono a menos.
Na 2ª semana o andamento mudou. O "aquecimento" estava feito, o grupo voltou ao ritmo pós descanso e os percursos eram mais exigentes. Tudo bem. Nenhum membro do grupo teria que atrasar-se para esperar por mim mas o líder da equipa, sim. Até porque, e I'm so sorry, estava a pagar a preço de PT.
Qual quê?! Num dia abandonaram-me... Num percurso de 11Km, fiz 4 e esperei 45m no ponto de partida. Basicamente deixei de os ver, não sabia qual era o trajecto e aceleraram tanto que ao fim de um quarto de hora já mal os distinguia no horizonte.
Mas nada disto abalou ninguém. O facto de em grupo não se abandonar um elemento não foi sequer um argumento que colhesse grande apreço. Aliás, chegados ao destino teve que ser um elemento do grupo, ao fim de 1 ou 2 minutos (!!!) a lembrar-se de mim, que estava sentada entre 2 carros. Que eu tivesse ido em frente. Oi? Como? Importam-se de repetir? Mas eu sou Forrest Gump? Ou nasci com um cabrão de um GPS instalado e não sabia, queres ver!
Perante este primeiro incidente, acho que cometi um erro grave em termos de relacionamento social. Disse, de modo educado, que não achava correcto ficar sozinha, que não me parecia comportamento adequado no contexto de um treino assistido mas que compreendia se a dinâmica do grupo não permitia encaixar uma pessoa nova e com um nível de preparação diferente.
Se me tivesse sido dito naquele momento que fora um erro, de facto, aceitar-me, que a lógica do treino fora concebida de uma maneira que só quem já estava de raiz ou tivesse determinada endurance aguentava, e que não era compatível 2 velocidades, tudo bem, eu teria que aceitar.
Mais mossa, menos mossa... Ter chegado ao que cheguei já representava um investimento estúpido na minha pessoa. Recomeçar a actividade física, num ritmo diário, depois do trabalho (sendo que o horário laboral passou a ser das 7h30 às 18H00 para conseguir, de facto, sair pouco depois das 6 da tarde), isto foi um shift do caraças mas preferia que me dissessem para ir pregar para outra freguesia porque naquela tinha havido precipitação e excesso de zelo.
Mas não. Aliás, houve uma fuga aos pontos levantados e uma atitude de no pasa nada. Total denial. Assim, à primeira vista, porque a bem da verdade, nos treinos seguintes a coisa só piorou: a interacção com a minha pessoa baixou para zero, nem sequer nos alongamentos me era dirigida a palavra. O pelotão continuava a isolar-se em amena cavaqueira. E foram-me claramente ditas 2 coisas: 1) só era possível o grupo não se distanciar totalmente em treinos de "descanso" (menos intensos), logo nos outros, amiguinha, olha, faz-te à vida. 2) o treinador estava a fazer o seu treino pessoal com os seus próprios objectivos e, portanto, quem estava, estava.
E nós a pagar, não é? Sweet!
Ao fim da 2ª semana, como o treino ia ser mesmo a doer, a recomendação foi que eu parasse (ainda não sei bem se era preocupação sincera com o meu estado de saúde / espírito; ou quererem livrar-se do carro vassoura do dia anterior; ou estarem mesmo incomodados por eu não desistir), manter-me a treinar ao meu ritmo até recomeçar o programa e nessa altura cumprir escrupulosamente a 1ª semana de treinos. E sem pagar mais nada (que seria, tinha pago um ciclo de 3 semanas, fiz 2... só generosidade!).
Tudo bem. Assim foi. Mal ou bem lá mantive os ténis a passear e esperei para ver como correria a semana de regresso ao asfalto... Pois, digam-me vocês, pessoas do bem! É que os treinos recomeçaram, mas informação sobre os mesmos, nos moldes habituais, com dados sobre data, hora, local, nem ver. Nada.
E o mais curioso, o que tem mais piada nesta história toda, tem mesmo imensa graça, eu tenho um amigo no grupo. Ou tinha. Não era um vizinho, ou colega, ou recém conhecido, ou irmão de um primo de uma amiga. Nada disso. Amigo mesmo. Aliás se não fosse assim, não me teria entusiasmado na aventura. Eu podia ter sido raptada por escaravelhos assassinos e daí não ter aparecido, que nem uma sms para saber o que se passava tinha recebido, ou para saber o que é que estava a correr menos bem. Nada... de novo.
Eu sei que não alinho em carneiradas e que abomino cultos de liderança. E também não acho que os meus amigos tenham que concordar comigo nas minhas opiniões. Mas a falta de solidariedade entre amigos, sobretudo porque se está rodeado de outros "amiguinhos", é algo verdadeiramente triste. E infantil. E mata-foda, a bem da verdade.
E só a mim é que acontecem estas pérolas da sociologia.
Se alguém considerar que alguma coisa descrita é normal e eu estou louca, ok, não quero saber. Já amadureci as ideias durante vários quilómetros e senti que as pessoas, no geral, são mesmo de evitar.
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