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A indignação dos antes ausentes

Há um ano qualquer pessoa (admito que me aconteceu algures no tempo), manifestasse o total repúdio pelo "sistema" de praxes, no mínimo era acusada de tiques esquerdistas reaccionários. Isto, para não entrarmos en insultos politicamente correctos. A bem da verdade, ninguém queria saber. NINGUÉM! Muito menos TODAS as pessoas que se manifestam agora em histeria indignada nos jornais, nas redes sociais. Sobretudo tudo que é pai de repente descobriu que existe essa realidade pautada pela humilhação, pela imposição das hierarquias (num contexto em que nem tal se justifica porque a diferença se baseia na idade ou no número de matrículas nem sequer há uma assumpção clara, como na vida militar, de uma categoria profissional diferenciada), pela submissão e não, não, não ... Isso tem que acabar. 

Agora. 

Agora que aparentemente (porque não há uma investigação concluída -note-se-que permita dizer que foi uma praxe que levou à morte de 6 pessoas, intencionalmente ou por mero-mas trágico-acidente). 

Mas até agora ninguém parecia ter dado por isso, não era uma questão que levantasse 10 vozes, quanto mais milhares. Casa roubada... Ou lembrar de Santa Bárbara... Blablabla. 

Porque os caloiros, sobretudo estes, são praxados, quer dentro como fora das faculdades, portanto nas ruas das cidades deste belo pais. Todos vimos. Os pais de praxados e agentes praxadores têm conhecimento das actividades de iniciação, certamente não ao detalhe, claro, mas ALGUÉM devia achar estranho os excessos. Quanto mais não seja os pais que agora precisam saber o que se passou em dezembro mas que não achavam ANORMAL os filhos alugarem, anualmente, uma casa durante o fim de semana para organizarem actividades de acolhimento aos caloiros. Mas quando é que a coisa ficou assim tão "sofisticada"que requere preparação com meses em meses de antecedência e que visam durar semanas, senão mesmo um ano lectivo inteiro, em prol da tradição de uma universidade chamada lusófona? Fundada por que rei mesmo? Nada disto parecia fora de comum aos pais? E os responsáveis das universidades ao permitirem que o espaço da escola esteja aberto para abusos que depois se replicam, ampliados, extramuros; ao não forçarem um código que leve à expulsão daqueles que manifestem um comportamento abusivo face aos demais; e ao compactuarem com alunos ad eternum quais parasitas orgulhosos; parecem esquecer-se que o seu papel de reitoria não é apenas de gestão de contas, mas têm que responder pelas pessoas que se lhes atravessam os portões todos os dias. 

A reacção pós-facto, por mais justa que seja, peca por tardia. Porque não é um tema que estivesse propriamente escondido. Até se pode não saber em detalhe os requintes de malvadez a que se chegam os "vossos" filhos mas não é uma novidade. A grande, mas grande maioria das pessoas, reitero, as mesmas que se insurgem com fervor, não queria era saber. Não as afectava. Agora, pode ter sido demais e abriu-se a caixa de pandora. 

Isto é um ciclo continuo. Da mesma maneira que as pessoas reagem com indiferença a tanta outra coisa. Porque, vamos ser honestos, não adoptam crianças, não são gays, não pertencem a nenhuma minoria, não precisam de recorrer ao Sistema Nacional de Saúde para tratar de doenças graves ou crónicas, and so on. Até um dia ... 

Comentários

Pedro Almeida disse…
Camarada Mónica, vamos lá a escrever mais coisas para haver mais interacção e essas coisas, pá.

Feliz dia do Valentim :-)
Mónica disse…
My heart is happy Pedro Almeida!!! Vou tentar, pá!
Pedro Almeida disse…
Deve ter sido do longo "jantar", imagino... ;-)
Mónica disse…
long dinner= coraçao bebido
Mónica disse…
long dinner= coraçao bebido

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