Avançar para o conteúdo principal

Quando o bikini simplesmente nao encaixa ...


(Nota inicial: comecei a escrever este post em papel num dia em que jantei sopa e manga, em férias!, logo tenho fome e nao estou bem disposta).

Há mais de 10 anos um amigo de faculdade com o qual ainda me cruzo, e que considero ser uma pessoa inteligente, comentava-me numa esplanada, num belo dia de Primavera quase no Verão, que apenas namoraria com miudas com as quais não tivesse vergonha de ir à praia e estar com os amigos.

Sempre amei praia: areia, água fria, calor, bolas de berlim, dias mais nublados, fins de dia até tarde, sempre me deliciaram. Só odiava (e odeio) algas. Náo obstante, este co mentário quando se tem 20 anos foi um marco importante. É que se já antes a ideia de andar de corpito ao leu ja me dava calafrios, depois desta frase tão sincera quanto gelada, o momento de tirar a t-shirt e ficar em bikini ou fato de banho passou a ser uma verdadeira tortura. Houve 2 verões que até foram mais ou menos pacificos depois disso mas foi-se num apice.

Desde então, a autoconsciencia e o espelho mordem-me a capacidade de discernimento e a racionalidade. E seria sociologicamente interessante, se não fosse emocionalmente devastador, o ver como as pessoas reagem a outras que estão com peso a mais, vulgo, estão gordas. E não falo só por mim, não é um mea culpa, pois a guerra contra o meu corpo está perdida e não há hipoteses de acordo de paz (só mesmo, passar fome), mas analisemos os factos em geral:

1) Uma pessoa vai à praia para, em principio, apanhar sol e tomar umas belas banhocas (sem algas). Em principio, não seremos barradas à entrada pelo corpo que se têm, nem proibidas de entrar na água;

2) Se uma pessoa vai socializar com amigos, os bons amigos aceitam-nos como somos, não é? (ok, se forem gajas aqui a coisa muda sempre ligeiramente). Nem cobiçam nem desprezam.

3) Se uma pessoa vai para o engate, aí a coisa pia mais fino mas não é esse o tema deste post.

Mas a verdade é que independentemente dos factos, não sou a unica que tem pavor de espaços publicos que envolvam praia ou piscinas, ou seja, bikinis / fatos de banho e se refugia na t-shirt ou na toalha de praia. Não nos vão multar pela celulite mas o medo, a ansiedade e a vergonha estão lá. E somos nós que as geramos, claro, mas contextualizemos numa sociedade viciada na imagem e não é de espantar que a mais segura das pessoas (que nao será tanto o meu caso) se desmorone por ter que partilhar a banhoca com os demais. Porque o bikini até é giro na montra mas em nós fica disforme. Porque caminhamos cabisbaixas e a tentar passar despercebidas atè à agua à espera que a areia ou o cimento nos engula, a ter que passar por todas as pessoas que viram obstaculos e ganham olhares criticos (reais ou imaginarios).

Pessoalmente, recuso-me ir á praia. Gorda Nao Anonima confesso-me. Nem mesmo com o namorado (que realisticamente me chama gorda!) nem com as amigas mais amigas mas magras de fugir:

a) quer seja porque a genetica lhes seja generosa (a cabra).

b) quer seja porque passam horas no ginasio (ir à 1ª aula de um ginasio é de morrer: a avaliaçao é feita com sobranceria e é humilhante, vinda de pessoas que NAO FAZEM MAIS NADA a nao ser trabalhar para ter aquele corpo e tratam mal os outros... 1 aula e acabou-se!).

c) quer seja porque comem alpista.

d) quer porque têm apetencia para vomitar tudo o que ingerem.

e) Quer porque venderam a Alma ao Diabo.

Uma amiga minha dizia-me há uns meses que ir aos fins de semana de Verão a casa dos sogros com piscina e com as 3 cunhadas, era o momento mais horrivel da vida dela. Ela que nem mãe foi (nao sente ter 1 desculpa) vs. as cunhadas que no total, entre si, têm 8 filhos!, mas mantêm-se fantasticas e claramente bikini users. Segundo ela, na vespera dessas idas, nao dorme, só bebe chá ao pequeno almoço, fica irascivel, toma calmantes, sorri forçosamente e tenta desesperadamente passar o tempo indoors em tarefas domésticas ou mantém-se à beira da piscina vestida com a desculpa do “periodo” (quantas vezes aquela mulher tem o perido por mês é incrivel!).

Isto é triste, mas por incrivel que possa parecer, mesmo às que negam como o poder da imagem as influencia (neguem o que quiserem, mas é verdade!!!), há quem entenda. Ela fica ali a ver as cunhadas a desfilar e a sentir-se miseravel, a chorar na casa de banho e a rezar que o dia acabe. Estamos a falar de uma miuda engraçada de 29 anos, satisfeita com o seu trabalho, apaixonada pelo namorado e verdadeiramente boa pessoa mas que nestas alturas se transforma numa personagem apagada, como uma Cinderela maltratada pelas cunhadas (que obviamente não fazem nada de mal).

Eu so acerrima defensora de que os magros deviam pagar mais impostos para compensar o dinheiro que os “outros” gastam em psicoanalise. Pelo menos isso. É que emagrecer é caro (a nao ser que se opte pela seiva ou fome mesmo). Sem sequer mencionar implantes ou levantamentos de rabiosque, temos os ginasios hiper mega caros, as massagens, as vibroliposucções que ficamos a pagar para o resto da vida, as manutenções. E o tempo / disponibilidade???. A mim mandam-me correr para o Estadio Universitario: quando venho totalmente f***** do trabalho com vontade apenas de morrer?

Outro dia, uma amiga aconselhava-me com a displicencia que só uma magra tem, mas como se fossem pérolas de sabedoria, para não só entrar num ginasio mas como além disso contratar um Personal Trainer, pois valia a pena (só se for para o ginásio ou se o PT render o investimento em favores sexuais, pelo preço que cobram).
Sei que teoricamente o disse com a maior das boas intenções, enquanto comia uma mega pizza acompanhada de imperial enquanto eu comia uma frugal salada com água, mas disse-o com total falta de sensibilidade para o tema sobretudo em termos orçamentais. Claro que sendo magra, aliado ao facto que tem um look bonito, elegante e bronzeado, não entende bem a dimensão da coisa e essas caracteristiccas dão-lhe asas.

Sejamos honestas: podemos ser profissionais empenhadas, filhas dedicadas, amantes apaixonadas, amigas disponiveis; podemos ser mulheres interessantes, curiosas e cultas, inteligentes; ou entao, podemos ser aborrecidas e sem interesse nenhum... mas nao deixamos de ser “gordinhas”, “rechunchudas”, “fortes” (é linda a expresssao, dá a sensaçao que aguentamos que um tanque nos abalroe), ie, gordas, quando passeamos no areal. E quer alguem comente, ou quer nem sequer reparem em nós, o nosso pior monstro, somos nós que sabemos que nao somos como as outras e o bikini apenas nos fica mal!

E a porcaria da frase do meu amigo ainda cá está marcada a ferro!

PS1: há sempre alguém, normalmente daqueles que se apelidam amigos ou da familia, que nos diz: “Ah, ganhaste uns quilinhos, nao foi?”. Acham que nós não sabemos? Que não somos nós que não entramos nos jeans? Que raio de sadismo é este? Se vos acontecer, respondam: “E tu, continuas a nao ser muito inteligente, não é?”. Ou entáo apenas mandem-no(a) à merda.

PS2: Como diria o delicioso Caco Antibes, em versão adaptada, “Odeio gente magra!”.

Comentários

Anónimo disse…
A questão central do post não a magreza dos outros mas como nos sentimos, e como reage a nossa auto-estima a isso. A boa da Gisele para alem de ter nascido linda, tb tem condições para a manter. Não gostamos de ver. Claro que sim. Podemos ter ou não um corpo fantastico mas o mais importante é que a cabeça esteja sempre levantada.
Quanto à amiga que tem suores frios de ir para a piscina com as cunhadas... ou deixa de ir ou deixa de se preocupar com aquilo que provavelmente mais ninguem se preocupa.
Ao final das contas o que interessa é o nosso corpo. Eu vou lá preocupar-me se a fulana A ou B está bem ou mal. Posso até pensar, comentar entre amigos, mas no final das contas, não me interessa o corpo da pessoa. Interessa é a ela. Alexandra

Mensagens populares deste blogue

Os lambe-cus (MEC)

Os Lambe Cus, by Miguel Esteves Cardoso   "Noto com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da revolução de Abril. Situa-se na área da ginástica corporal e envolve complexos exercícios contorcionistas em que cada jogador procura, por todos os meios ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber o cu de um jogador mais poderoso do que ele. Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de um agente da polícia ou de um artista. O objectivo do jogo é identificá- los, lambê-los e recolher os respectivos prémios. Os prémios podem ser em dinheiro, em promoção profissional ou em permuta. À medida que vai lambendo os cus, vai ascendendo ou descendendo na hierarquia. Antes do 25 de Abril esta modalidade era mais rudimentar. Era praticada por amadores, muitos em idade escolar, e conhecida prosaicamente como «engraxanço». Os chefes de repartição engraxavam os chefes de serviço, os alun

Devo ser a unica mulher

Que gosta do Mr. Big. Pois que gosto.  Enquanto a Carrie era uma tonta sempre à procura de validação e de "sinais", a complicar, a remoer, ser gaja portanto, o Mr. BIG imperfeito as may be era divertido, charmoso, sedutor, seguro (o possível dentro do género dos homens, claro), pragmático.  E sempre adorou aquela tresloucada acompanhada de outras gajas ainda mais gajas e mais loucas.  Fugiu no dia do casamento? Pois foi. Mas casaram, não casaram? Deu-lhe o closet e um diamante negro.  Eu gosto mesmo muito do Mr. BIG. Alguma vez o panhonhas classe media do Steve? Ou o careca judeu que andava nu em casa? Por Sta. Prada, naooooooooo! 

Do acosso

Este calor que se abateu com uma força agressiva consome qualquer resistência.  O suor clandestino esbate vergonha e combate qual sabre as dúvidas.  A noite feita à medida de libertinos cancela as vozes interiores que alertam para mais uma queda dolorosa. A brisa quente atordoa, embriaga no contacto com a pele. O tempo pára, as palavras suspendem entre olhares que sustentam no ar tórrido toda a narrativa; qual pornografia sem mácula, mas plena de pecado. A lua cheia transborda e dá luz à ausência de sanidade que percorre no corpo. Tudo parece possível, uma corrente de liberdade atravessa-nos com o sabor do quente esmagado. E, mesmo assim, pulsa algo mais intenso. Mais derradeiro. Mais dominador. Mais perverso que o toque dos dedos. Mais agressivo que a temperatura irrespirável. O freio da impossibilidade.  A intuição luta com o medo e na arena o medo mesmo que picado tem sempre muita força. O medo acossa-nos.