Ao contrário do que era vaticinado pelo que lera e ouvira, afinal não foi a desgraça total. Já devia saber que emprenhar pelos ouvidos é sempre uma má opção.
O filme não é uma obra prima. Também não foi feito com esse objectivo. O filme é sobre 4 mulheres, amigas, que once a upon a time andavam nos 30's, a viver em ritmo frenético a cidade de Nova Iorque e, que hoje estão nos 40's (uma já vai nos 52 anos e luta contra a menopausa com o seu pragmatismo natural).
Hoje, têm casamentos e filhos. Só quem não vive uma relação longa com outra pessoa sob mesmo tecto percebe o medo da rotina que Carrie enfrenta, com o sofá a centralizar o universo. Ou não entende a piada amarga de ter trocado a moda pela decoração.
Só quem não tem filhos não apanha o sentimento de frustração de Charlotte ou de Miranda, esgotadas pelas exigências das crianças ou pelo equilíbrio trabalho -maternidade, o dilema ad eternum. Não sendo mãe, tenho amigas que o são e atingi o que se passava na tela.
Mas um filme também não é isso, fazer o espectador rever-se no argumento? Mesmo que o estilo seja grandioso, as mensagens são simples e são pedaços da nossa vida. Com ou sem Chanel.
Ok, há exageros. Ninguém faz cupcakes de saia Valentino bege. É certo. Mas também ninguém em Nova York faz cupcakes em casa. E é um reforço da personalidade de Charlotte. Ela não iria cozinhar de calças de fato treino, está tudo doido? Nem de jeans! Charlotte é uma WASP convertida em judia, é uma Grace Kelly wannabe e aí radica todo o personagem.
Mais, se não fosse uma saia Valentino bege vintage a sofrer a vingança da filha, o saltar da tampa dela não teria o mesmo impacto de desmoronar emocional.
Apesar de não ter sido uma fã acérrima da série (via quando via), consegui identificar-me com Carrie quando, perante a comemoração de uma data importante, ela se esforça por oferecer um presente cheio de historia e significado, com abnegação própria das mulheres que adoram dar presentes a quem se gosta, e, em troca, recebe uma TV. A desilusão que lhe baila nos olhos reconheço-a à distância. Ao fim de 7 anos de relação, senti já o mesmo vezes sem conta. Não obstante, e apesar de um niquinho de egoísmo que preside à escolha de Big, malgré tout, entendo o porquê daquela escolha. Há que andar na mata para ter a visão da floresta.
Há exagero no Médio Oriente? Há! O guarda roupa de Samantha é mau (mesmo de galdéria!). Carrie de saia rodada e sapato agulha no mercado de especiarias não é credível? 80% do que vestia na série era desadequado, mesmo em NY. Nisso sempre residiu a magia dos episódios. E, para mais, ela não é uma mulher qualquer.
Acresce que acentua o desenquadramento cultural americano às realidades exteriores. É o american way of life em qualquer parte do mundo.
Apesar de não ser o objectivo do filme, outra coisa que ele faz é desmistificar a publicidade do "novo Médio Oriente". Por entre o luxo e a hospitalidade, a tradição não muda. A mensagem pode não ser passada com a verve intelectual de um filme "sério" mas não tem pudores em mostrar o óbvio.
No entanto, e apesar das diferenças e da descoberta do lugar para onde a mulher é remetida no contexto islâmico, há um elemento agregador supra crenças ou atitudes sexuais: a moda. Esta forma de arte que inebria os sentidos une as mulheres mais extravagantes de sapatos de salto agulha de 15cm e mulheres que comem baratas fritas vestidas quase de burqha.
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