Cada uma das pessoas que se juntou hoje às manifestações terá razões pessoais mais ou menos acentuadas, mais ou menos dramáticas, mais ou menos sensatas, mais ou menos equilibradas. Globalmente, há uma preocupação comum: "e amanhã?"
Para alguns, o amanhã, e a severidade, dos efeitos, já começou a sentir-se ontem. Para outros, tal ainda não se perspectiva, mas o receio grassa e amigos, familiares, conhecidos já penam.
Para outros, há uma carga ideológica forte na sua opção de manifestar-se. Até porque não votou neste governo logo mais fortemente rejeitam estas medidas.
Bom, há "n" contextos. O "eu e as suas circunstâncias" como diria Gasset.
Aceito que houve um momento em que as coisas tinham que parar e mudar radicalmente. Compreendi que as primeiras reformas tivessem que ser implementadas (aumento dos escalões de IRS, aumento de IVA). Não as vi como as melhores medidas, não consegui ver qual o propósito a médio-longo prazo mas entendi a necessidade de todos contribuirmos para um esforço colectivo. Arregaçar as mangas, trabalhar, cabeça erguida e seguir em frente que é o caminho.
Não sou contra a Troika.
Pelo contrário. Se nos emprestam dinheiro, temos que pagar, tal e qual como acontece na nossa vida pessoal. E é normal que haja acompanhamento periódico para ver se o dinheiro que cá é posto não anda a ser desviado para casas na Quinta do Lago (ou cavalos em Alter do Chão).
Aliás, a Troika devia ter assumido o governo do país de forma transitória e independente. Porque está claro que não há, in-house, competência nem apetência para "limpar" a casa.
Se chegámos ao ponto de necessitarmos de uma intervenção, e ainda que haja muita culpa na especulação nas agencias de rating e nos grande bancos de investimento que manipulam os "mercados", foi sobretudo pela má gestão ou gestão negligente de antigos governantes.
Por descuido, por ignorância, por incúria, por má fé, por intencionalidade recorrente, os sucessivos governos que os nossos pais e nós fomos elegendo, foram fazendo deslizar o país para areias movediças. E nós habituá-mo-nos a um nível de vida, acima das nossas possibilidades, como se não houvesse amanhã. Um dia, isso acabou! Puff.
Então, se chega a Troika com medidas de austeridade, se é necessário começarmos a mudar o chip e o modus operandi, quem quis (nota: Passos + Relvas & Portas candidataram-se, ninguém os obrigou a ir, e sabiam que o que iam herdar era mau; e MESMO que tenham sido enganados, só se fossem parvos é que não desconfiariam que o cenário fosse pior!) assumir o fardo tinha uma oportunidade única de fazer o que nunca fora feito: limpar tudo.
Investigar quem errou, como e quando. E actuar.
E abrir uma guerra sem quartel à pandemia de corrupção e compadrio nos organismos públicos, nas câmaras municipais, nos ministérios, nas secretarias de estado, os assessores em excesso, nas secretárias com motorista porque o ministro tem dois carros à disposição, nos familiares e amigos nas administrações da PT, da RTP, e afins, nos contratos de ajuste directo inexplicáveis, no numero de deputados em excesso, nos deputados que acumulam reformas e/ou acumulam empregos, nas ligações perigosas com as grandes empresas do costume (Mota Engil, Grupo BES, por exemplo). O despudor total à solta.
Mas era esperar de mais de Passos, um tipo que podia (podia) ter boas intenções mas não tem uma ideiazinha sua naquela cabeça, nem capacidade construtiva para fazer o que seja. E de Relvas só se pode esperar uma coisa: que se for lá a casa jantar não roube nada nem se atire à mulher do anfitrião.
Em vez de dar exemplo de "austeridade" ética, brotaram boys por todo lado, desde cedo começaram os disparates e as decisões tipicas de um governo sem preparação, sem tino e gerido, no que toca à Troika, por um maniaco com uma fixação só dele e de rédea solta; e, mais grave, por um gajo caciquista a gerir agenda própria, tão notoriamente e de forma impune.
Admiram-se que uma pessoa se farte?
No meu caso concreto, e independentemente dos danos em termos de orçamento doméstico que tenho sofrido nos ultimos anos, mais drasticamente em 2012 e, pior ainda, pelo que se espera, em 2013, o que me indigna, o que me lixa a vida, é a neblina mal-cheirosa em torno das Privatizações e do senhor Borges (ao pé de quem o Jorge Mendes é um "menino"), um sacana que chegou com o seu saco azul e vá, toca a enchê-lo.
É o Gaspar com as suas opções solitárias a direito, sem olhar às circunstâncias.
É o Relvas ... being Relvas.
É o Passos a mostrar clara, e cobardamente, que não sabem fazer, não estão a tentar fazer, não estão a procurar opções, que não tem opinião, que não sabe, que se calhar é melhor virem mas é os advisors que ele vai ali cantar um pedacinho com o Paulo de Carvalho depois do jogo da selecção e vocês, olha, pois tenham um fim de semana dentro do possível, depois de levarem com a merda que atirámos para a ventoinha. Mas desculpem, sim? Custa muito, mas não sei se há mais caminhos, o relatório dos advisors não explicava bem e já estou atrasado para o concerto.
Mas lá se aguenta um idiota chapado sem coluna destes? Uma barata tonta desnorteada que tem a nossa vida na mão?
O país não se pode dar ao luxo de, numa fase em que nos exigem sacrifícios, não ter uma liderança forte, efectiva, coerente com uma argumentação racional e uma atitude credivel e mobilizadora.
Eu não quero que a Troika se vá embora. Num contexto ideal, ficavam e fazíamos outsourcing governamental.
Até porque, a bem da verdade, no panorama politico não abundam soluções viáveis e as pessoas competentes há muito que partiram ou estão de mala de cartão em riste.
Comentários