O Principezinho, grande inspiração da minha vida, dizia, na sua maravilhosa e pura imaginação, "Foi o tempo que dedicaste a alguém que o tornou tão importante."
O meu namorado faz anos hoje. É data de comemoração, claro está. O Bart Simpson cá de casa, apaga mais uma vela (na verdade, se contarmos bem, a 16º vela .. isto da idade mental tem muito que se lhe diga! LOL).
Contextualizando, o meu namorado não podia ser mais diferente de mim. É de direita conservador, enquanto sou de esquerda liberal. É metódico e sistematizado como qualquer financeiro, ditado pela lógica matemática dos números. Eu, apesar de organizada, sou mais criativa e algo caótica, ando sempre para trás e para frente antes de sair de casa porque tenho as coisas espalhadas. Não obstante, eu sou hiper mega pontual. Já ele, apesar de rigoroso, bom... para ser simpática, acha que um horário é algo puramente indicativo. E portanto cumprir é algo que não lhe entra no ADN. Vou morrer de AVC à custa disto, juro!
Teimoso e algo intolerante, é difícil discutir com ele porque a sua visão é muito linear: preto ou branco. Eu sou uma palete policromática e salvo algumas excepções de temas, sou permeável a escutar os argumentos dos outros. Depois há temas em que não abdico, geralmente naqueles em que sou muito exigente com as pessoas que entram no meu universo, enquanto ele é mais easy-going e não se ofende tanto com coisas que as pessoas fazem.
Não stressa nada, é super-cool e vê as coisas de modo pragmático. Eu sou o Woody Allen. Estamos sempre pegados por eu não ser mais dura com situações que o merecem; eu acho que ele não entende.
Eu gosto de esplanadas e livros e ir ao cinema, ele de ver desporto na TV e cozinhar. Ele é fanático de Duran Duran e gosta de Roberto Carlos (estão a ver o calibre da coisa, certo?) mas detesta Coldplay, Madonna e não gosta nada dos meus Duffy, Adele, Seal, Dido, Dave Mathews Band ou Bruce Springsteen (ó sacrilégio!!!).
Ele é católico, eu sou agnóstica quase a cair para o ateísmo. Ele gosta de casamentos, eu acho-os uma seca. Ele gosta de novelas brasileiras, eu prefiro ver o Rui Santos. E ainda não se apercebeu que não gostou de pão torrado em casa. Torradas só nos cafés!
Ele não gostou de Nova Iorque, dá para acreditar??? Como é possivel? (ok, eu também não gosto de Paris mas NY é NY, caramba... e Paris, tem parisienses). E sair á noite é uma guerra, porque não alinhamos com as escolhas.
Ele ouve a TV alto de mais e está sempre a fazer zapping. Põe-me louca. E não suporta que eu deixe cair coisas no chão (tenho um problema de coordenação, passageiro, espero!), o que lhe faz revirar os olhos. Ele demora 45m para escolher um cinto; eu em meia hora saio do Colombo já carregada de compras. Ele é aforrador, eu... bom, já se sabe. E podia dar-me mais presentes, uma gaja gosta, o que se pode fazer?
Está sempre a dizer que falo muito e depressa (bela desculpa para não ouvir nada que eu diga de IMPORTANTE) mas se depois estou num mood de silencio, a curtir as minhas neuroses, está sempre a melgar-me para eu "deitar para fora". E não pára, é chato!
Mas, dizem os entendidos, aqueles que me conhecem há anos, que ele é pessoa indicada para me aturar. Que alinha pelo mesmo comprimento de onda. Que me adora apesar das fortíssimas pancadas que eu tenho. Quando me dá o ataque de insanidade, vai tudo à frente. Mas ele faz-me uma placagem.
E mesmo assim, há quase 8 anos que estamos juntos, e essa é a importância que ele tem na minha vida.
Com ele aprendi a gostar de rugby e a ter uma noção mais exacta de geografia (sou péssima). Com ele, alarguei o leque de opções musicais. Com ele fui ao Rio de Janeiro e apaixonei-me. E, apesar de não gostar de ler, ensinou-me imensas coisas, mesmo quando eu faço cara de quem já não está a ouvir mais uma teoria qualquer dos estados da Lua.
Aprendi que afinal tenho paciencia e que partilhar a intensidade das coisas com alguém é bom!
Acima de tudo, o meu namorado passou muito e teve que aturar muita merda para estar comigo. Houve sempre problemas, obstáculos, bloqueios, fizeram-me muito mal (ainda fazem!), fizeram-lhe mal ... e ele sobreviveu. E eu sobrevivi porque ele me aguentou naqueles abraços que me fazem desaparecer do mundo.
Mesmo nos momentos mais difíceis, e mesmo quando eu não concordo com o que ele me diz, as suas opiniões sensatas e ponderadas, ainda que nem sempre sensiveis, têm sempre um fundo racionalidade e preocupação comigo.
E, sobretudo, não é fácil para uma pessoa que não acredita em certas coisas, ter que as viver em casa e ter que se habituar a lidar com elas e não falhar. Mesmo quando eu me vou abaixo. Ele puxa-me para cima, nem que seja à força.
Além disso, é do Benfica. Fundamental.
Para mais estende a roupa, trata da louça e, sobretudo, cozinha para mim mesmo quando só eu é que janto, a seguir vou ver um concerto e ele vai jantar com amigos. O spaghetti carbonara dá cabo de mim...
E eu ri-mo imenso com ele. Às vezes o disparate é de tal modo irreal, que quem nos vir deve achar que somos alucinados ou ganzados. Ultrapassamos a noção do ridículo. Somos companheiros, cúmplices e temos um modo de estar só nosso que acho é o "nosso segredo". Confio totalmente nele. Mesmo. E não trocava isso por outras coisas.
Apesar de vermos o mundo de modos diferentes, estamos os dois a observá-lo da mesma janela, ao lado um do outro, ao mesmo tempo. Isso é a base e o fim de tudo!
Parabéns, "docinhho"
Comentários
Quase, quase tudo o que é acima comentado corresponde efectivamente à realidade e por estranho que possa parecer-vos e ao Mundo em geral, eu gosto de ser assim. Até ver, não vislumbro grandes motivos para alterar a minha maneira de ser. Sinto que a maior parte das pessoas pela vida de quem passo, gosta de mim. Há umas outras a quem lhes sou indiferente, e somente uma ínfima parte me detesta. A mim, o saldo parece-me altamente favorável pelo que vou manter o mesmo rumo.
Assim sendo, despeço-me com amizade e até ao próximo ano.
Um beijinho grande e um abraço forte para todos.
Vocês sabem quem são.