"A vida não merece que nos preocupemos tanto com ela", sábias palavras de Madame Curie.
Mas como qualquer frase com significado mesmo que enunciada de modo simples, as coisas depois na realidade não são como fórmulas químicas, o que é uma verdadeira chatice. Porque complica tudo.
Esta semana, na Visão, numa entrevista, o Primeiro Ministro (PM) Sócrates dizia, e passo a citar: "Eu não tenho problemas de afirmação. E não me afirmo contra ninguém. Sou suficiente seguro de mim próprio e gosto o suficientemente de mim. Não tenho problemas de amor-próprio (...)".
O raio do homem já podia ter incluído estes comentários de auto-ajuda nos discursos há uns bons anitos, porque me pouparia muito dinheiro em terapia. Melhor, gravava isto em cd e eu dormia a´ouvir isto vezes sem conta até interiorizar!
Ou seja, para cada 1 pessoa com o condão de complicar a vida, há 1 ou 2 que conseguem à custa do seu amor próprio relativizar as coisas. Claro, que com o meu karma, eu sou a que bato com a cabeça nas paredes.
A vida pode ser uma coisa assim a atirar para o "livra!". A sério. Uma pessoa consegue sentir-se tão acossada com situações quotidianas tão triviais, que vendo de fora, sob outro prisma, parecem básicas, que é muito difícil depois lidar com essa dupla realidade: ou seja, por um lado nada é assim tão dramático mas, de facto, para quem o vive, é mesmo doloroso.
E isto no dia a dia assume proporções esmagadoras. Porque temos consciência que nada e ninguém nos deve afectar de um modo em que deixemos de existir para passar a ser meras sombras de nós próprios; mas depois, não conseguimos ser Viriatos e receber o inimigo de peito aberto e espada em riste (muito teatral?), apesar da vontade de dar uma valente coça ao mundo.
E vivemos em sentimento de culpa entre o que deve ser e o que é, na verdade. Entre o que somos e o que fazem de nós. Entre o que odiamos e o que engolimos. Entre o que é a nossa força e o modo como a aniquilam.
Sentimo-nos impotentes. E criticados, incompreendidos. A Madame Curie não devia ter desses dilemas. Gaja com sorte (mas também passava o dia metida no laboratório).
O nosso PM também não, aparentemente. São, pois, ambos à sua maneira inspiradores, o que pode parecer uma conclusão de alguém demente, assim à primeira vista. Acreditem, não é.
A vida pode ser um bocadinho assustadora, confesso. Perder o controlo, não ter capacidade de afirmação ou de poder dar um real pontapé nos tomates a quem o mereça. A vida não merece que os domingos sejam tão fracturantes.
Deve ser por isso, quase de certeza, juro!, que inventaram os chocolates.
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