Avançar para o conteúdo principal

O maravilhoso mundo da vida a 2

O calor ajuda a baixar-me a já de si perene barreira da tolerância. Põe-me com os nervos em franja e o lado assassino anda mais à superfície. Nada de bom pode advir disto!

Claro que quando se partilha um espaço chamado vida com outra pessoa, há muita viola enfiada no saco. Nada de sapos que odeio ao ponto de os querer matar à pedrada. 

Mas se há coisa que estes 8, quase 9, anos de convivência amorosa me dão grande conforto para desabafar sem hesitações, é que para além do amor, do companheirismo, do sexo desenfreado, da confiança, 3 coisas são fundamentais para se sobreviver na selva da "conjugalidade":

1) Ter 2 casas de banho. 
Não tenho. É uma grande merda.  
Faz muita falta. 
Desde logo, pela privacidade. Esses à vontades de um lavar os dentes enquanto o outro corta as unhas dos pés sentado na sanita... menos! Depois pela necessidade de espaço para as minhas coisinhas. 
E há mais: não ter que regular, diariamente, como sai a água, do chuveiro; não ter que gramar com cabelos pretos (nota: euros depois, a minha melena é loura!) na banheira antes de entrar; e, sobretudo, as horas... a gestão do tempo de utilização matinal da casa de banho resulta numa logistica que me lixa sempre, porque como o gajo tem um problema de horas (basicamente, são-lhe indiferentes), levanto-me sempre primeiro para me arranjar com 2 horas de antecedência.
Noutra encarnação, ou noutra casa, ou noutra relação, quero MESMO mais uma casa de banho.

2) Se o gajo gostar de ir às compras ao supermercado, deixá-lo ir.
Para mim, uma ida ao Continente, ao Pingo Doce ou ao Lidl que dure mais de 30 minutos, já é um caso sério de intolerância. Começo a ter comichões e a hiper-ventilar. Começo a arrastar-me pelos corredores a ver já tudo muito torto. E como faço uma ida à Zara, com vistoria completa, com compra efectiva, e passagem pela caixa registadora, em menos de 10 minutos, desespero com a capacidade de alguém que esbanja tempo a escolher mostarda (já chegámos há uns belos 25 minutos neste cenário), queijo (nunca menos de 10 minutos), shampoo (10-12 minutos) ou ... pão (5 minutos).
Solução: eu fico em casa a ler, ele vai às compras. Ás vezes, vou eu.

3) Ter 2 TVs.
A doutrina divide-se. 2 TVs afastam um casal. É verdade. Mas também não gera uma frustração de serial killer em atacar o outro que teima ver, sei lá, o American Pie (merece umas belas caneladas, de qualquer maneira), ou faz aquela coisa irritante de, chegando um anuncio, mudar sem parar de canal, coisa MEGA enervante.
Melhor do que ter 2 TVs, é ter 2 boxes que gravam. MARAVILHA. Ó abençoada cama, comando e tardes de Domingo a ver gravações e dvd's de coisas giras (Criminal Minds, Damages, Ossos, Closer, The City) vs. ter que gramar o Guimarães-Estrela Amadora, época 84/85, na RTP Memória ou o Campeonato Mundial de Dardos na Sport TV ou, pior, o Melrose Place (dasseeeeeeeeeeeee).
Há outra vantagem: quando nos querem obrigar a ver o programa dos Gorditos que emagrecem, num misto de pedagogia e indirecta velada, permite virar as costas, rodar os calcanhares de forma arrogante e ir ver as irmãs Kardashian!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Os lambe-cus (MEC)

Os Lambe Cus, by Miguel Esteves Cardoso   "Noto com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da revolução de Abril. Situa-se na área da ginástica corporal e envolve complexos exercícios contorcionistas em que cada jogador procura, por todos os meios ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber o cu de um jogador mais poderoso do que ele. Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de um agente da polícia ou de um artista. O objectivo do jogo é identificá- los, lambê-los e recolher os respectivos prémios. Os prémios podem ser em dinheiro, em promoção profissional ou em permuta. À medida que vai lambendo os cus, vai ascendendo ou descendendo na hierarquia. Antes do 25 de Abril esta modalidade era mais rudimentar. Era praticada por amadores, muitos em idade escolar, e conhecida prosaicamente como «engraxanço». Os chefes de repartição engraxavam os chefes de serviço, os alun

Devo ser a unica mulher

Que gosta do Mr. Big. Pois que gosto.  Enquanto a Carrie era uma tonta sempre à procura de validação e de "sinais", a complicar, a remoer, ser gaja portanto, o Mr. BIG imperfeito as may be era divertido, charmoso, sedutor, seguro (o possível dentro do género dos homens, claro), pragmático.  E sempre adorou aquela tresloucada acompanhada de outras gajas ainda mais gajas e mais loucas.  Fugiu no dia do casamento? Pois foi. Mas casaram, não casaram? Deu-lhe o closet e um diamante negro.  Eu gosto mesmo muito do Mr. BIG. Alguma vez o panhonhas classe media do Steve? Ou o careca judeu que andava nu em casa? Por Sta. Prada, naooooooooo! 

Do acosso

Este calor que se abateu com uma força agressiva consome qualquer resistência.  O suor clandestino esbate vergonha e combate qual sabre as dúvidas.  A noite feita à medida de libertinos cancela as vozes interiores que alertam para mais uma queda dolorosa. A brisa quente atordoa, embriaga no contacto com a pele. O tempo pára, as palavras suspendem entre olhares que sustentam no ar tórrido toda a narrativa; qual pornografia sem mácula, mas plena de pecado. A lua cheia transborda e dá luz à ausência de sanidade que percorre no corpo. Tudo parece possível, uma corrente de liberdade atravessa-nos com o sabor do quente esmagado. E, mesmo assim, pulsa algo mais intenso. Mais derradeiro. Mais dominador. Mais perverso que o toque dos dedos. Mais agressivo que a temperatura irrespirável. O freio da impossibilidade.  A intuição luta com o medo e na arena o medo mesmo que picado tem sempre muita força. O medo acossa-nos.