Avançar para o conteúdo principal

Rock.In-Rio em Elvas

Já passou quase um mês mas sempre que pegava no tema para o trazer à vida em formato de post, dava-me vontade de não o escrever. O tema irrita-me, mesmo!

Então, pois, passou-se assim. A 17 de Julho deste ano houve hiper mega chique casório em Elvas. Até saiu na Caras Brasil (chique a valer!)

Eu até nutria alguma simpatia pelo galã de telenovelas Ricardo Pereira; o protótipo filho que todas as mães queriam ter, o neto desejado por todas as avós, o amigo que qualquer possa pessoa quer ter, o namorado aspiracional de todas as adolescentes, o amante com quem todas as mulheres querem dormir.

Ora o belo moço casou com a menina "bem" de Cascais, Estoril ou da Parede (às vezes... nunca se sabe!). Como a tradição exige, foi boda super fina, com vestido de branco, do melhor estilista que há, com festa na herdade da família, no Alentejo (chique a valer!). Convidam-se o 400 amigos mais próximos dos noivos, desde da rádio, TV e cassete pirata, a figuras do social, pessoas da banca, tudo upa upa

A coisa começa a parecer uma grande cena de telenovela com os tiques de vedetismo. Os nubentes alardearam tanto o casório, semana sim, semana não, em tudo o que era revista (achou que só não apareceram na Dicas do Lidi), qual era a necessidade da palhaçada dos balões a tapar a noiva à entrada? Não estavam à espera que não houvesse mirones, pois não? Inocentes ou pedantes à séria?

De facto era um Carnaval e pêras, mas ó amiguinhos, e a culpa foi de quem? Quem é que permitiu que a festarola casamenteira se transformasse num Rock in Rio em Elvas? Só faltou mesmo a Ivete rodar a baiana!

Então, vejamos. Havia o carro do noivo, Seat, marca que o noivo representa, decorado a preceito para a ocasião. A Caras da semana seguinte, que dedicava 22 páginas (vinte e duas!) ao evento, tinha fotografias extraordinárias de convidados em plena promoção a marcas patrocinadoras (Patrícia Brito e Cunha sorridente a tirar 1 café Nespresso, Raquel Strada com seu olhar de tamboril, a beber uma imperial Sagres); pelo meio, ficávamos a saber as promoções do DIA (estrategicamente colocadas no meio do álbum do casamento... também chique a valer!).

Mas o melhor mesmo foram as tendas na Herdade do pai da noiva (um senhor gourmet ficávamos nós a saber, pois o menu foi feito a pensar no requintado palato do senhor!) que ostentavam o logo do Millennium, banco ao qual o noivo faz publicidade. Que acharam os accionistas desta campanha de marketing indoors? E que retorno trouxeram os milhares investidos ao banco? Ou foi presente de casamento? E o Sr. "Fuck Them" Berardo sabe? É coisa para não gostar.

Nunca na vida tive a aspiração casar. Mesmo que tivesse, já tinha mudado de ideias dado que o dinheiro que se paga por esta brincadeira é bem mais gasto numa belíssima viagem. 

O que não entendo é como se vendem fatias da historia das nossas vidas assim, como se a ficção ganhasse poderes sobre a realidade. Como se nada daquilo fosse único, exclusivo e intransmissivel.

Imagino que como souvenir da boda, os convidados tenham trazido umas t-shirts a dizer "Eu Fui!".   Chique a valer.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Os lambe-cus (MEC)

Os Lambe Cus, by Miguel Esteves Cardoso   "Noto com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da revolução de Abril. Situa-se na área da ginástica corporal e envolve complexos exercícios contorcionistas em que cada jogador procura, por todos os meios ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber o cu de um jogador mais poderoso do que ele. Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de um agente da polícia ou de um artista. O objectivo do jogo é identificá- los, lambê-los e recolher os respectivos prémios. Os prémios podem ser em dinheiro, em promoção profissional ou em permuta. À medida que vai lambendo os cus, vai ascendendo ou descendendo na hierarquia. Antes do 25 de Abril esta modalidade era mais rudimentar. Era praticada por amadores, muitos em idade escolar, e conhecida prosaicamente como «engraxanço». Os chefes de repartição engraxavam os chefes de serviço, os alun

Devo ser a unica mulher

Que gosta do Mr. Big. Pois que gosto.  Enquanto a Carrie era uma tonta sempre à procura de validação e de "sinais", a complicar, a remoer, ser gaja portanto, o Mr. BIG imperfeito as may be era divertido, charmoso, sedutor, seguro (o possível dentro do género dos homens, claro), pragmático.  E sempre adorou aquela tresloucada acompanhada de outras gajas ainda mais gajas e mais loucas.  Fugiu no dia do casamento? Pois foi. Mas casaram, não casaram? Deu-lhe o closet e um diamante negro.  Eu gosto mesmo muito do Mr. BIG. Alguma vez o panhonhas classe media do Steve? Ou o careca judeu que andava nu em casa? Por Sta. Prada, naooooooooo! 

Do acosso

Este calor que se abateu com uma força agressiva consome qualquer resistência.  O suor clandestino esbate vergonha e combate qual sabre as dúvidas.  A noite feita à medida de libertinos cancela as vozes interiores que alertam para mais uma queda dolorosa. A brisa quente atordoa, embriaga no contacto com a pele. O tempo pára, as palavras suspendem entre olhares que sustentam no ar tórrido toda a narrativa; qual pornografia sem mácula, mas plena de pecado. A lua cheia transborda e dá luz à ausência de sanidade que percorre no corpo. Tudo parece possível, uma corrente de liberdade atravessa-nos com o sabor do quente esmagado. E, mesmo assim, pulsa algo mais intenso. Mais derradeiro. Mais dominador. Mais perverso que o toque dos dedos. Mais agressivo que a temperatura irrespirável. O freio da impossibilidade.  A intuição luta com o medo e na arena o medo mesmo que picado tem sempre muita força. O medo acossa-nos.