Trago-te preso no coração como uma pedra que foi perdendo o brilho, com pouco valor mas de que não me consigo libertar pela estima, pela dor que a ela associo, pela alegria que outrora me trouxe, pela recordação do breve momento em que tive a tua mão na minha, segura, com esse calor com que me gelavas por completo, com a confiança que me davas de ti em cada sorriso. Pela forma como me apetecia sempre envolver-te no meu único abraço, confessando em ti o meu melhor, amenizando o que de mau há na minha bagagem e oferecer-te nada, apenas recolher, a dois, tudo.
Agora és só uma breve imagem de um rosto que pensava jamais esquecer, acompanhada por um conjunto de músicas esbatidas pelo gastar do seu significado, em tardes que só me fazem sentir-te à distância, mas com a mesma urgência de te ter por perto e livre para me estenderes a mão e me obrigares a saltar. A ausência atenua a ansiedade mas não sossega a vontade de me sossegar por entre o teu caos, como se te apoiar servisse de apoio.
Pensei que sem ti ír-me-ía perder, mas ainda aqui estou para contar a história, agora que já não tem interesse. Se calhar nem nunca o teve, apenas eu é que lhe conferi um protagonismo feito à medida do modo como te adivinhava perto. Pela forma descuidada como nos tocávamos, negando a pele de galinha que surtia como efeito. Pela teia que fomos ampliando, comigo no centro a ser a tua descoberta, o teu sofá de leitura, o café que te acordava, a almofada em que deitavas a cabeça cansada de sonhos, derrotada pelo teu génio, pedinte de carinhos e leite com chocolate.
Custa-me que a tua presença se esvaneça diariamente, custa-me que nos tenhamos afastado com esta resolução de cariz permanente. Já estou imune à tua fraqueza, ao teu desnorte, às indecisões dolorosas, ao egoísmo gritante.
Custa-me, sobretudo, de ti nada saber, de ti ora imaginar uma vida abençoada pela felicidade conjugal ora sofrido pelos dias menos solarengos. Custa-me já não seres o meu amigo. Custa-me que não sintas falta da tua amiga. Custa-me saber que não mais te verei.
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