Se há coisa que eu gostava (para além da casa de praia algures no Brasil e não ter que trabalhar) era chegar ao fim do dia minimamente com bom ar.
Não peço ter o aspecto saudável-chique-blasée género Giselle Budchen nem sequer ar de quem saiu do cabeleireiro / spa / tratamento de botox, mas é deveras frustrante sair de casa de manhã de banho tomado, cabelo aprumado e cheiro de perfume acabadinho de pôr para, findo o dia, parecer uma sopeira. Só falta a permanente.
Atente-se ao dilema.
A maquilhagem desapareceu lá pela hora de almoço. O esforço madrugador de creme hidratante, pré- base, base, anti olheiras, pó translúcido, sombra, pó bronze, blush, rimmel e gloss resulta, com o passar das horas numa... como dizê-lo, uma bela merda. Nem os retoques (quando me lembro de que estou mesmo com ar de quem ficou sem pinga de sangue) me salvam. A aparente subtil passagem de pó bronze e blush, em vez de contribuir, agrava o caos: mais pareço gaja de cabaret mal pintada.
Pelo meio, há papeis com provas de pó e base que vêem agarradas às mãos, sendo que estas se esquecem dos contos de reis que gasto na porcaria da maquilhagem. Ando sempre a mexer na cara e faço um chavascal total. Se houver verniz de tom encarnado, nas suas 549 variantes, fica o serviço completo: são riscos no caderno que mais parece brincadeira de criança com lápis de cera.
Lindo, lindo é sujar as desgraçadas das pastas imaculadamente brancas da empresa mesmo antes de reuniões e sentir o olhar de desprezo do macho do estaminé, banzado com o desplante do verniz (e com todo processo de embelezamento, a bem da verdade, que na minha pessoa devia ser banido, de acordo com o próprio).
Se isto já era mau, piora.
Pela fresca, ou vejo muito mal (Dr. João Pinheiro faz favor de me devolver o "guito" da operação) ou a roupa, dentro do possível que a embalagem permite, cai bem. Às vezes um bocado amarrotada, mas tem dias e temos pena, mas no global a coisa vai com ar asseadinho (graças a deus) e até pareço uma pessoa responsável. Vai-se a ver, nada disso. A camisa insiste em sair das calças, os collants estão sempre a cair, as túnicas tornam se menos compridas e agarram-se ao corpo, os brancos perdem a cor branca!!! e tudo resulta numa grande confusão e com aspecto a atirar pró vulgarucho.
Ar sofisticado, zero. Fica um modelito pavoroso que faria a Rachel Zoe desmaiar de espanto (e de fome, ao que consta).
Para aumentar a confusão, o cabelo que saiu liso e fantástico (graças aos milagres da técnica e ao Edi, o cabeleireiro que me salvou a melena da desgraça), começou a ter vida própria e a franja que insisto em ter, apesar de me ficar tão bem como um bikini, teima em posicionar-se como qualquer coisa que não uma franja. E sai do sítio, irrequieta como o demo, a grandessissima cabra.
Por esta altura, já esta tudo lixado com "F" grande. Como ando de transportes públicos, também caminho muito a "penantes" (e a acelerar não vá o mundo acabar). Dado que ando sempre carregada que nem mula (carteira do Sport Billy em que cabe desde perfume, sandes, óculos, telemóveis, livro, moleskine, revistas) transpiro no vai-e-vem de sobe escadas do metro, atravessa a avenida, vai do saldanha ao campo pequeno, já a cair com o peso de tudo o que trago (há dias que pareço mendiga!) e estou sempre com calor, como se tivesse saído de 2 horas na passadeira. Juro, qualquer dia ninguém se senta ao meu lado no autocarro.
Portanto, de regresso a casa, não faço desvios porque estou imprópria. Como começo a bocejar às 3 da tarde, os meus olhos, gradualmente, ficam encarnadissimos. O ar irrespirável, pesado e abafado do escritório, com má ventilação, agrava a sinusite e consequente dor de cabeça, ou seja, fico com um ar pálido, adoentado, cansado e, sejamos honestos, verdadeiramente mete nojo. A indumentaria apropriada para este estado: pijama.
Aquela coisa do sair do trabalho e ter um ar esplendoroso enquanto se bebe um copo antes do jantar só em revistas ou filmes. Tornar me minimamente gira às 8 da noite é uma tarefa demasiado árdua e impossivel. Admiro quem consegue ser naturalmente impecável e ainda ter espírito para estar bem à noite, de semana, depois da labuta. Mesmo que o conceito de trabalho seja "possivelmente" diferente, não custava nada ter outra vidinha do que esta de aspecto andrajoso.
Ser gaja pode ser mesmo uma treta.
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