A minha vida profissional levou-me a conhecer, ao longo destes últimos "séculos", um numero de pessoas sem fim. Entre candidatos entrevistados e contratados, diferentes interlocutores das várias empresas clientes e colegas de trabalho, tive a oportunidade, algumas vezes, o raro privilégio, de lidar com um rol impressionante de indivíduos.
Lidar com tantas personalidades diferentes, em contextos nem sempre fáceis, quase sempre exigentes, e com a vertente de seleccionar "a" pessoa certa, gerindo expectativas e jogos de interesses dos clientes, ensina uma coisa ou outra.
No entanto, a mais importante lição que me ficou clara como água, é de que independentemente das competências que uma pessoa demonstre, o seu verdadeiro activo reside na sua personalidade e num conceito vintage, uma pessoalidade íntegra. O que faz a diferença entre ter a capacidade, ou até o talento, e ser-se um bom profissional são os valores e princípios que nos vincam a personalidade.
O empenho, o esforço, a dedicação, a disciplina, o ir mais além, resultam desse quadro de valores e do modo como estamos na vida. São estas pessoas que não fingem estar doentes para escapar às suas obrigações. Ou que entram tarde e saem cedo, aproveitando para queimar "horas" a beber cafés, enrolar o caracol ou a dizer mal dos colegas. Ou que se põem em "bicos de pés" diariamente para dar nas vistas, dando graxa a uns, tratando mal outros e revelando uma superioridade que não lhes assiste.
Gradualmente, as organizações começam a excluir estas figuras. A detectá-las e a retirar-lhes o tapete. Não é fácil pois estamos a falar de pessoas que se revelam no seu "melhor" no local de trabalho; e porque durante muito tempo a ambição sem limites e a filha-da-putice eram traços distintivos da lei da sobrevivência. Sobretudo em épocas de crise e de baixa segurança no emprego.
Mas, na verdade, o ADN conta e muito. Não só porque permite a alguém "correr" mais que os demais ou adaptar-se melhor a realidades em mudança, mas porque o espírito de entreajuda, de cooperação e de sinergias positivas, do qual resultam boas ideias e soluções que ajudam as empresas a aguentar-se e a prosperar, só é possível quando os colaboradores são dotados deste ADN saudável.
Não falo de seres abnegados que se diluem na organização. São profissionais com vontade de evoluir, com potencial de crescimento e energia para construírem uma carreira. Porém, fazem-no em prol do colectivo, sem uma atitude puramente egoísta de "passar por cima" e respeitando a sua autenticidade, afirmando-se pelas suas ideias e pelo que são, não pela capacidade de prejudicar terceiros.
Isto nem sequer implica que se criem laços de amizade mas vigora um interesse comum e todos alinham pelo mesmo diapasão, assente no desenvolvimento global e individual, na motivação e no esforço. Se todos sentirem que partilham a mesma "ética" e objectivos, menos distanciamento existirá com a empresa.
Em tempos duros como os que vivemos, os melhores são, não só os mais bem preparados, emocionalmente mais fortes e com maior flexibilidade; mas sobretudo os mais bem formados enquanto indivíduos.
Ser boa pessoa, compensa. Vamos acreditar.
Comentários
São em períodos como os que vivemos que as pessoas revelam o seu melhor e pior. Infelizmente, o pior ganha força todos os dias.
Vão valendo aqueles desgraçados, cada vez menos, que nos fazem perceber que ainda vale a pena trabalharmos para as pessoas e acreditarmos.
Sim, porque quer queiras quer não, o nosso missão são pessoas. Mais nada.
Parabéns!