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E um dia

Um dia percebes que já não te levarão a Paris, só porque sim, para um fim de semana de borboletas no estômago a ignorar franceses; ou a Londres, para passeios sob o frio e compras. Que não receberás flores ao fim de um dia cansativo só para te sentires amada, ou numa manha de sábado para que as peónias te iluminem o fim de semana. Que ninguém te organizará uma festa de aniversario surpresa porque ninguém gosta de facto assim tanto de ti, independentemente das palavras vazias e soltas. Ninguém te dará uma jóia por mais simples que seja, como umas pérolas, ou um acessório inesquecível, sob as estrelas mágicas natalícias. Não saborearás amêijoas num domingo solarengo numa esplanada de praia. Não acordarás numa cama de hotel, com vista sobre a cidade e o Tejo, em paz e em modo OFF. Que não verás o por de sol na Comporta. Um dia, ganhamos consciência que nenhum Rhett Buttler nos amará ao ponto de nos comprar um closet cheio de roupa. Não é que não soubéssemos, mas vivíamos em "denial". Não virá o Rhett. Chama-se a isto, "face the brutal facts". Ou envelhecer. Ou viver com a vida que se tem.

Comentários

Será perceber e ganhar consciencia que sempre que se desconsideram os pequenos gestos de carinho, que existiam sem a égide da Prada ou do Hotel mais chique da Europa ou da praia mais in, causa-se a extinção dessa espécie de gestos? Talvez sim.
Todos os que ainda te damos, as singelas palavras e gestos de carinho, é porque de facto gostamos de ti, mesmo que nunca tenhamos suficiente glamour/estilo/elan para te satisfazer. Gostamos e resistimos. Da nossa maneira, gerindo a frustração que causas em nós por não chegar ao que almejas, continuamos a querer dar-te sorrisos, carinho, surpresas.
Somos medíocres? Não, mas também gostamos de café que não seja o Starbucks.
Depois de amar um seixo de praia conseguimos dar um diamante, mas amar verdadeiramente o gesto que de dar.

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