Avançar para o conteúdo principal

Portugal e a mania dos referendos

Começar pelo esclarecimento devido:

a) não sou gay
b) sou a favor dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo

Posto isto, não entendo o porquê da necessidade do referendo.
Passo a explicar o meu ponto de vista, agora que alguns dos meus (poucos) leitores assiduos já estão a rezar pela minha alma.

1) O partido vencedor das ultimas eleições legislativas e o Bloco de Esquerda (4ª força mais votada) têm no seu programa eleitoral esta questão, abordando-a pela positiva. O PCP alinha pelo mesmo comprimento de onda, apesar de que, creio, não ter colocado explicitamente no programa eleitoral. Com os votos destes 3 partidos (ou seja, partidos eleitos por uma franja da população), há maioria para fazer aprovar o tema.

Qual o sentido de referendar, então? Eles não foram eleitos, não constava do Programa Eleitoral, o qual foi a escrutínio? Tiveram os seus votos. Quem não concorda, pois votasse noutro partido. Mas em democracia parlamentar, as leis são aprovadas por quem lá está.

2) se pensarmos nos casais homossexuais (eles existem, não tentem tapar o sol com a peneira, eles existem; e não vão nem aumentar nem diminuir com a união civil; vão apenas continuar com a sua vida) que não podem exercer os direitos e deveres inerente ao contrato jurídico matrimonial, a única palavra, honestamente, que me ocorre é: discriminação. Pura e dura.

Não é uma questão de "modernices" ou de ser "anti-clerical"*, coisas que já sei que me vão dizer, é um facto óbvio, de bom senso e, juro, não entendo a razão do medo, do nojo, do choque.

Eu não percebo que as pessoas queiram casar, ponto. Mas a minha vida como UFO não foi facilitada com o veto estival do Sr. Silva. Mas para todos os efeitos sou UFO e como tal posso exercer direitos e deveres associados. se eu vivesse com uma gaja (Scarlet, where are you?) as coisas já eram diferentes.

Ora, eu não gosto cá de casamentos, mas se, sobretudo, por questões até legais, os casamentos entre homossexuais não me afectam NADA (e afectará a vida de alguém mais do que a dos próprios???), considero-os um direito concedido e não um direito referendado.

É porque se não podem casar, então também se calhar deviam pagar menos impostos? Ou não são cidadãos de pleno direito? Não votam? Não são população activa? Não contribuem para a reforma que nenhum de nós vai ter?

Quem sabe, podiam-se destruir estes tristes preconceitos que ainda vigoram. Uma sociedade não evolui com mentes pequeninas e que se arrogam ao direito de manipular a vida pessoal dos outros.

3) não se referendam direitos civis.


*PS. Admito e aceito que a Igreja tenha a sua opinião mas que se fique pelos adros e sacristias. Estado Laico. Repito, LAICO... True story

Comentários

Tigrão disse…
É por estas e por outras que há um vazio de valores na civilização moderna.
Tudo o que conhecemos e como conhecemos, há-de ruir porque as bases hão-de vergar-se perante tantos ataques.

Mensagens populares deste blogue

Os lambe-cus (MEC)

Os Lambe Cus, by Miguel Esteves Cardoso   "Noto com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da revolução de Abril. Situa-se na área da ginástica corporal e envolve complexos exercícios contorcionistas em que cada jogador procura, por todos os meios ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber o cu de um jogador mais poderoso do que ele. Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de um agente da polícia ou de um artista. O objectivo do jogo é identificá- los, lambê-los e recolher os respectivos prémios. Os prémios podem ser em dinheiro, em promoção profissional ou em permuta. À medida que vai lambendo os cus, vai ascendendo ou descendendo na hierarquia. Antes do 25 de Abril esta modalidade era mais rudimentar. Era praticada por amadores, muitos em idade escolar, e conhecida prosaicamente como «engraxanço». Os chefes de repartição engraxavam os chefes de serviço, os alun

Devo ser a unica mulher

Que gosta do Mr. Big. Pois que gosto.  Enquanto a Carrie era uma tonta sempre à procura de validação e de "sinais", a complicar, a remoer, ser gaja portanto, o Mr. BIG imperfeito as may be era divertido, charmoso, sedutor, seguro (o possível dentro do género dos homens, claro), pragmático.  E sempre adorou aquela tresloucada acompanhada de outras gajas ainda mais gajas e mais loucas.  Fugiu no dia do casamento? Pois foi. Mas casaram, não casaram? Deu-lhe o closet e um diamante negro.  Eu gosto mesmo muito do Mr. BIG. Alguma vez o panhonhas classe media do Steve? Ou o careca judeu que andava nu em casa? Por Sta. Prada, naooooooooo! 

Do acosso

Este calor que se abateu com uma força agressiva consome qualquer resistência.  O suor clandestino esbate vergonha e combate qual sabre as dúvidas.  A noite feita à medida de libertinos cancela as vozes interiores que alertam para mais uma queda dolorosa. A brisa quente atordoa, embriaga no contacto com a pele. O tempo pára, as palavras suspendem entre olhares que sustentam no ar tórrido toda a narrativa; qual pornografia sem mácula, mas plena de pecado. A lua cheia transborda e dá luz à ausência de sanidade que percorre no corpo. Tudo parece possível, uma corrente de liberdade atravessa-nos com o sabor do quente esmagado. E, mesmo assim, pulsa algo mais intenso. Mais derradeiro. Mais dominador. Mais perverso que o toque dos dedos. Mais agressivo que a temperatura irrespirável. O freio da impossibilidade.  A intuição luta com o medo e na arena o medo mesmo que picado tem sempre muita força. O medo acossa-nos.