Nunca ansiei gerir uma empresa. Nunca tive sonhos de ter o meu próprio negócio (mas há algum tempo que gostava de ter uma ideia criativa que fosse para um negócio inovador, giro, honesto e jeitoso e eu pudesse dar asas a imaginação).
Não serei certamente uma líder e não devo ser grande coisa a chefiar pessoas pois mal me oriento a mim (aliás, a minha gestão de mim própria é um desastre como já se percebeu).
Não obstante, como acho que apesar de tudo fui abençoada com algum bom senso e tenho valores, ainda me espanto com os produtos do capitalismo pornográfico e desenfreado que por aí pululam.
Pois ele há gurus da gestão (julgam eles) que iluminados na sua presunção de sabedoria, que destilam pérolas de como se fossem bolotas. Porque quem quer bolota, trepa, já se sabe. Ou seja, correr atrás dos objectivos.
Começamos logo pela lição I, e mais importante: não interessa o esforço mas o resultado. O esforço não e valorizável. Trabalhar pouco, quase nada ou muito é indiferente; o que interessa são os resultados.
Obviamente não ter resultados não paga as contas e, bottom line, os stakeholders (palavra muito em voga!) têm que ser remunerados, e não se trabalha para caridade. Porém, menosprezar os colaboradores por se esforçarem, ora diminuindo-os por trabalharem fora de horas, ora arrasando-os por não fazerem serão, é no mínimo uma maneira estranha de motivar.
Bem, na verdade é uma maneira doente de lidar com pessoas, a atirar pró bipolar.
Advogar estes chavões de grande chefe apache, no fundo, é o puro do contra senso. Qualquer ser pensante sabe que, infelizmente, só com esforço (mais ou menos) se consegue alguma coisa. Até a top model mais geneticamente feliz (cabra que um dia levarás o tratamento da Mossad que mereces), que dispensa ginásio e passar fome, mesmo essa, para fazer as fotos que vão vender um bikini ou um relógio ou um perfume, tem que levantar o rabo não celulitico cedo da cama para apanhar o avião, assegurar que não chega com os olhos empapados, ignorar o jet lag, fingir que não percebe o assédio do fotógrafo e deixar se estar durante horas sob calor, sempre a puxarem lhe o cabelo e a besuntá-la com óleo brilhante. Não é, à sua maneira reaccionária, esforço?
Lição II: motivação traz-se de casa. A empresa não tem que motivar quem quer que seja.
Claro que esta teoria encaixa numa premissa lógica: cada um deverá ter o seu nível de auto-motivação regulado mas empresas com filosofias destas é de mandar dar uma curva ali até à boca do inferno e adeusinho...
Estas posições legitimam que se tratem as pessoas abaixo de número. E encaixam na lição I.
Independentemente do que a pessoa faça ou do nível de empenho que se coloque nas suas tarefas, nunca será suficiente, nunca será valorizado nem vale a pena esperar por um incentivo, uma palavra simpática que seja.
Pior, se alguma coisa corre mal bem pode a pessoa atirar-se para baixo de um camião TIR em andamento que ninguém o vai impedir. Aliás alguns accionistas, putativos seres superiores, até agradecem... assim escusam de perder dinheiro e tempo em despedir o elo visto como fraco.
Sei que devem estar a adorar estes ensinamentos de bem gerir. Um dia destes volto ao tema. Desta caixa de horrores, o que não falta são case studies.
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PM