Fruto desta quadra natalícia que se aproxima, não queria deixar de agradecer a todos aqueles que durante estes complicados 12 meses fizeram questão de me chamar "gorda", ou recomendar-me dietas, umas mais racionais outras milagrosas, ou me perguntaram se estava grávida ou, melhor ainda, me explicaram a importância de ser-se forte mentalmente para voltar emagrecer.
Agradeço particularmente o modo "carinhoso" como me explicaram que ter-se bom aspecto e ter-se um look fantástico é meio caminho andado para ser-se feliz. Sempre a aprender.
Com estas pequenas grandes lições de humanidade, uma pessoa sente-se melhor. Porque apesar dos 20 quilos a mais, e depois de muita analisar a questão por vários prismas, regojizo-me por ser melhor pessoa. Porque eu jamais faria a terceiros metade das coisas que me fizeram (sim, tenhamos calma, eu sou a rainha da auto critica).
Ora, quando uma pessoa está na merda, há uma corrente que acha que a terapia de choque é a solução: confrontar-nos com o nível de decadência a que chegámos, os olhares calados mas reveladores de desagrado, a monitorização do que uma pessoa come. São as "bocas", a frieza da realidade atirada sem problemas nem complexos. Não ajuda, a sério, não ajuda puto. Não vão entender, mas é tramado passarem-nos um atestado de incompetência, sobretudo quando a pessoa já não se tem em grande conta.
Outra corrente, muito em voga, é a que nos faz passar por tontinhos. Com esta premissa em mente, ensinam-nos como fazer uma dieta, porque com uma em 6 meses, vá 9, vou-me sentir muito melhor. Ou, em opção, se me alimentar de poções, agua e sumo de limão, ui... não só mostro a minha superioridade em termos de guerra ao peso, como fico de estalo num instantinho. Caso contrário, sou um ser desprezível. Além de ter ganho o direito de ser socialmente expulsa dos cânones de agradabilidade, sou um individuo fraquinho que não tem personalidade para passar fome nem fustigar-se num ginásio caro. E há sempre uma maneira discreta, en passant, para mutilar a auto estima alheia com pequenos apontamentos de "me, boazona, you simpática!"; "eu capaz de emagrecer, tu acumuladora de gordura".
Mas o top, top mesmo é: "Estás de bébe?"
Se aos demais actos de tortura mental consigo encaixar e, vá, desculpar, a isto ... espero bem que noutra encarnação quem me tenha dito isto venha sob a forma de um insecto ou réptil peçonhento.
Sim, sim, pode ser Natal mas o raio da compreensão e não julgar é uma coisita que deve ser acto continuo ano inteiro. Assim sendo, não é na época festiva que vou esquecer-me da sobranceria de uns, a violência de outros, e a insensibilidade de uns quantos.
Vão-se lá empanturrar em doçaria de Natal, ó magros! Bah!
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