Apesar de tanto anos depois de ter partido ainda me recordo do aroma do seu perfume.
Da "maciez" do rosto quando me agarrava ao seu pescoço e lhe dava beijos sem fim. E ele pegava-me ao colo com facilidade e felicidade, com as mãos de dedos elegantes e unhas perfeitas.
Nunca me senti tão confortável como naqueles braços. Ou andar como os meus mini-pés em cima dos seus pés. Como se fossemos um só.
Nunca um telefonema voltou a ter a mesma importância que os seus telefonemas diários quando estava fora. Nunca ir ao aeroporto ficou tão retido na minha memória como quando ele chegava, quatro vezes por ano, das viagens às ilhas.
Nunca o Benfica se sofreu com tanta intensidade e tão mau humor lá em casa. Mesmo que empatasse. Ele nem jantava.
Dele sobrou-me o gosto pela leitura, a curiosidade por tudo, a gargalhada sentida, as fúrias mega que passam num instante, a queda por queijo, o tom de voz alto que tanto irrita toda a gente (é impressionante!) e a facilidade em dar.
Nunca se supera a perda de um pai. Nunca. O buraco da ausência preenche-se com as boas memórias mas não se fecha, não se cicatriza.
E faz-me tanta falta. Ninguém acreditou tanto em mim como ele. Ninguém me amava tão incondicionalmente como ele. Ninguém discute comigo assim, como ele, com sentido, com gritos mas de igual para igual. Ninguém percebia a minha deslocação continua e o meu apetite por estar à frente dos demais. Ninguém mais me entendia a arrogância, vulgo impaciência.
Ninguém mais voltou equilibrar o empurrar-me para a frente, sem deixar de me dar a mão, mas fazendo-me ter a certeza que conseguia fazer o caminho sozinha. E que no fim lá estava ele, carregado de mimos.
Ninguém mais me amou ou me entendeu. E dói muito esta saudade.
Comentários
I hear you!
Um beijo, Mags