Apenas me queria pedir se lhe enviava um envelope e um selo para que me pudesse devolver algo que lhe tinha sido solicitado. Queria fazê-lo e cumprir com uma diligência resultado de um erro que não havia sido seu, apenas mais uma incompetência do costume.
Porém, não o podia fazer porque está dependente da ajuda financeira de terceiros e não conseguia pedir mais uns cêntimos para o selo e o envelope.
E uma pessoa que não conheço, que não vou conhecer (à partida), que teve a sua sucessão de azares, doenças e más decisões (estas conclusão daquelas, talvez, não sei) que não posso ajuizar ou comentar, partiu-me o coração.
Não sou nada dada a estas coisas e tento sempre reagir com pragmatismo e uma palavra positiva. Mas de repente nem palavras, nem chão. Puff, foi-se tudo!
Custa muito ouvir coisas destas. Na primeira pessoa. Na nossa vida normal. É a miséria que não se contabiliza.
Não sendo propriamente um exemplo de aforradora brilhante, muito pelo contrário, lido mal com as dificuldades dos outros.
E cada vez me faz muita (mesmo, muita) confusão aquelas pessoas que tendo uma vida afortunada, nos tempos que correm, que conseguem manter um bom nivel de vida, pelo seu trabalho (consideremos apenas estes, for argument sake) e por não terem sido afectados pelo desaire económico que assola o país, que assumem uma atitude de "Ok, sim, é verdade, há uma crise, é lixado, mas eu estou bem, a mim não me toca, não vou entrar numa onda de neurose colectiva. Querem ver fotos das minhas férias no Brasil? Ou dos meus Louboutins acabadinhos de comprar? Ou da placa vibratória que acabou de aterrar cá em casa para eu ficar ainda mais em forma?"
Onde abunda prosperidade (mesmo que mais do que merecida), falta bom senso e sentido de pudor. Não estou a dizer que comecemos todos a distribuir os nossos bens à força, ou a deixar de consumir (nada apologista disso, de todo), ou a punir quem tem e pode... Mas, caraças, algum respeito pelos outros. O novo riquismo é aflitivo. É uma praga. Odeio pessoas assim. É uma nova forma de arrogância.
Estou destruída. Aquela conversa afectou-me. Não me acordou para a vida. Mas mexeu comigo.
E, não, não estou naqueles dias.
Comentários
E sim a crise já não é só conversa da comunicação social, mesmo quando não nos afecta directamente a nós, afecta e muito alguém ao nosso lado. É impossível passarmos ao lado, porque quer queiramos ou não, ainda que indirectamente acaba por nos afectar.
A classe mais baixa e que nunca conseguiu o seu pé de meia, e que de repente não tem trabalho está a passar muito mal.
Quando eu era pequena aprendi que éramos remediados e que era de gente do bem ajudar quem mais precisava.
Hoje há tanta gente a precisar e precisar de ajuda ou não ter sorte na vida tornou-se uma vergonha.
Obviamente que quem pode, pode e nao tenho nada contra quem pode viver bem. As pessoas não vão deixar de ter mais um vestido, ou jantar fora todos os fins de semana, ou ter mais um filho, ou ir de ferias para o estrangeiro porque há uma maioria que nao pode. Sempre haverá quem tem (mt) dinheiro e quem não (tanto) dinheiro.
O que me custa é o exibicionismo e ostentação nestes tempos por cima do argumento, óbvio de quem antes nada tinha e passou a ter, e não o encaixou com humildade e elegancia, de que a crise nao os afecta, o dinheiro é ganho com suor, sangue e lagrimas e ninguem tem nada a ver com isso. Tudo verdade, mas tudo discurso de m****. São pessoas mal formadas. É como estar no meio de uma epidemia em que a grande maioria está de quarentena e nada pode fazer, e uma parte da populaçao, ainda saudavel usufrui de um status quo para lá do normal que nao se coibe de mostrar aqueles que estao metidos no isolamento. Tristes.