Desde há 2 anos que percebi que a crise chegara para ficar. Quando, em centros comerciais, estações de metro, antigas lojas de rua, começaram a aparecer, gradual, depois mais rapidamente, as lojas de "Compramos Ouro".
Tendo nascido depois do choque petrolífero e sendo mínima no inicio da década de 80, e mesmo tendo ouvido falar de crise em vários momentos, a existência de lojas de compra de ouro, assim, "à descarada", foi algo que, desde então, me custou (custa) a lidar. Ainda que perceba que para muitas pessoas possa ser "a" solução, não gosto destas lojas, arrepio-me passar por elas e acredito que há, como a lei de mercado o dita, uma dose de oportunismo brutal!
Para lá da minha dimensão pessoal, com a sua dose de drama à minha medida, esta semana fui de novo confrontada com a violência da crise da forma como nem sempre a vemos. Algures num prédio que conheço, foi descoberta uma pessoa a viver na garagem. Não é um típico sem abrigo, é uma aparente pessoa normal que, por circunstâncias, ainda não totalmente explicitas, está a viver numa garagem. É tão triste.
Desde que soube, que não há dia que não penso nesta situação e aguardo poder saber mais do condomínio respectivo para tentar ajudar. Independentemente de todas as vidas dilaceradas, desnorteadas e desfeitas que todos os dias se cruzam comigo na rua, esta tornou-se quase real. Ou demasiado real.
Demasiado doloroso.
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