Por esta altura do ano, de 2 em 2 anos, começo a ter problemas de sociabilização graves.
Maiores que os normais.
Por norma, até os meus (poucos) amigos me olham de soslaio e me acham insuportável.
Como de costume, isso não faz mudar a minha opinião. Pior, tem-se agravado.
Eu não suporto a Selecção Nacional de Futebol. Ponto.
Não aguento a histeria e o transe psicadélico em torno daqueles 23 tipos que não têm culpa mas claramente, mais ou menos, abusam desta romaria provinciana de beija-mão.
Se fossemos um povo, em sentido de colectivo, minimamente equilibrado até acharia importante o sentido de comunhão. Mas, não somos. Somos bipolares. Vamos da euforia (somos "muita bons" à depressão da derrota (normal porque na verdade se calhar não somos tão supersónicos) num ápice e andamos aos caídos. Pelo meio, dias e dias em que não se trabalha porque de manhã, excitação pela hora do jogo, depois de almoço começar a preparar o visionamento do jogo e ver o jogo em si: pára tudo!
O meu distanciamento com a Selecção agravou-se com a história das bandeiras nas janelas. Divórcio total. Aquela coisa do Roberto Leal, a Nª Srª do Caravaggio, o estilo do Filipão, as janelas invadidas que nem semana santa em Sevilha. Um horror.
Há também a questão mais emocional: em 23 jogadores, mais de metade já insultei forte e feio e considero-os incivilizados enquanto profissionais. Caraças, este Euro até o guarda redes suplente, do Benfica, eu não tolero. Portanto, se o Meireles e o Alves são para mim umas bestas em campo quando jogavam no FCP ou nos seus actuais clubes, depois não sou hipócrita a achar que na selecção são fofinhos como pandas bébés. São à mesma umas bestas. É comportamental.
Racionalmente, esta Federação é muito corrupta. Logo aí, olhar de esguelha. Em seguida, o dinheiro que se esbanja nestes privilegiados que se deram ao luxo de irem para o estágio exibir os carros topo mas topo de luxo, enquanto representam o país (logo, os seus concidadãos) duramente afectado pela crise, é vergonhoso. E o Paulo Bento e a Federação permitiu-o.
Nós sabemos que eles ganham muito. Estão num mercado privado, ganham aquilo que alguém aceita pagar e eles aceitam receber. Tranquilo. É um abuso, sim é. Mas é o mundo que vivemos e é a sociedade que alimenta isto pela forma como consome futebol de forma demente. Siga. Agora, se tivessem alguma noção da realidade mínimo de educação, alguém (já não se pediria aos pelintras transformados em milionários) deveria ter pensado: esta equipa está ao serviço do país, está a ser observado (idolatrado) por centenas de pessoas, ao vivo, vamos ter algum respeito pela situação nacional generalizada e assim que seja transportada num (muito) bom autocarro. Não... Lamborghinis, Aston Martins, enfim.
Mais assombroso são os valores envolvidos nos gastos que o estagio e a estadia na Ucrania vão implicar. Mais os prémios de jogo. Que a Federação (do erário publico) paga. Estamos a falar de jogadores que ganham milhares, mas mesmo assim, ainda vão receber mais. É justo jogarem de borla? Talvez não, mas podiam recusar. Nobre é representar a selecção, não? Até porque é uma forma de se promoverem, certo? E aí sim podiam falar de uma atitude patriótica. Outros países pagam prémios elevados? É pá, temos pena, Portugal não tem fundos para tanto devaneio. Quem quer, aceita, quem não quer, olha veja de casa, no plasma de 5 metros na sala cheia de t-shirts apanágio destes cromos.
Eu não advogo que não nos façamos representar. A serio. E até devemos pagar um prémio mas com valores simbólicos porque estes cavalheiros não precisam do dinheiro e neles há tanto investimento feito (acima das nossas posses, a bem da verdade), com retorno zero porque não ganham porra nenhuma, sejamos honestos. O que se ganha são os impostos sobre a venda dos jogadores quando eles saem do pais (isto se metade não for pago num offshore em Cabo Verde).
Por oposição, vamos estar nos Jogos Olímpicos com vários atletas que provavelmente não terão tão bons resultados quanto poderiam alcançar porque não terão tido, ao longo da sua preparação, verbas suficientes para ou dedicarem mais tempo aos treinos, ou a maior diversidade de treino, muitos tiveram que procurar patrocínios pessoais ou avançar com dinheiro próprio. Outros, uma minoria, terão tido todas as condições todas, mas não é justo ou correcto em 15, por exemplo, 5 estarem aptos e os demais não terem tido acesso a todas as oportunidades.
Enquanto isso, algures em Óbidos, num hotel 5 estrelas...
Não me conseguem convencer.
Que acabe o Euro rápido, que ganhe a Suécia (giros!), ou a Alemanha (só para irritar!) ou Espanha (para irritar mesmo muito) e por favor, que venham os mui nobres Jogos Olímpicos.
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