Enviaram-me este texto.
E estou tão de acordo que aqui o plasmo.
Obrigada à sábia alma que comigo o partilhou.
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E estou tão de acordo que aqui o plasmo.
Obrigada à sábia alma que comigo o partilhou.
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“está demonstrado que a concentração de poder nas mãos de nulidades estimula a arrogância e é prejudicial ao sossego alheio”
por ALBERTO GONÇALVES
Segunda-feira, 28 de Maio: Solidariedade, modo de usar
Sou do tempo em que o Ocidente olhava os seus próprios percalços económicos como uma insignificância, se comparados com a pura miséria do Terceiro Mundo. Há vinte ou trinta anos, por maiores que fossem as crises do lado de cá do Equador, a fome em África comovia corações, gerava monumentais campanhas de apoio e, de brinde, alimentava carreiras na música pop. Hoje, ninguém quer saber do assunto. Pior, invocar hoje o assunto é motivo de impaciência e indignação, conforme o deslize de Christine Lagarde deixou perceber.
Num momento de sinceridade, a sra. Lagarde confessou preocupar-se mais com as crianças do Níger do que com os gregos que, cito, limitam-se a querer "escapar aos impostos." Embora ligeiramente demagoga, a afirmação é razoável. Infelizmente, a época não convida à razão e a fúria que caiu em cima da directora do FMI não se descreve: de Atenas a Lisboa, as boas consciências da praxe acusaram a senhora das piores vilezas. No que depender das boas consciências, as crianças do Níger que se lixem.
De facto, não é que os europeus estejam menos compassivos: sucede apenas que nunca tiveram compaixão nenhuma. África serviu de bandeira contestatária enquanto não ficou evidente, incluindo aos ceguinhos, que as desgraças locais se deviam muito menos à interferência do homem branco do que aos governos corruptos em vigor na região. A partir do instante em que o drama dos subsaarianos e subnutridos já não convertia ninguém à fé anticapitalista, os infelizes puderam morrer em sossego.
Agora agita-se a questão grega na medida em que esta permite, ainda que com grande liberdade poética, culpar a alta finança, os EUA e os inimigos do costume. No dia em que todos perceberem que o problema dos gregos são eles mesmos, o celebrado "berço da democracia" desaparecerá num ápice da retórica indignada em prol de outra "causa" qualquer. Na ideologia da solidariedade, é sempre o remetente que importa: o destinatário não passa de pretexto. Nem da cepa torta - o que, com amigos assim, é natural.
Sexta-feira, 1 de Junho: Cinzas
Interditar o fumo nos restaurantes (e aparentados) significa condenar de vez um sector que, só no primeiro trimestre do ano e sem a ajuda do Governo, despediu 15 900 funcionários e registou uma queda de 30% no negócio.
Por espantoso que pareça, se ainda nos espantarmos com alguma coisa, é isto o que um obscuro secretário de Estado da Saúde, um tal Leal da Costa, anunciou todo contentinho: até 2020, será proibido fumar em todos os "espaços públicos". Razoável? Com certeza, se os protótipos de governantes não considerassem públicos os espaços privados que o Estado assalta materialmente e, pelos vistos, agora orienta espiritualmente.
De resto, a restauração é apenas um exemplo dos alvos da "lei de restrição de não fumo" (é verdade, o sr. da Costa não subiu na carreira graças ao domínio da língua). Outro exemplo são os carros particulares, perdão, os carros públicos que os cidadãos compraram com o seu dinheiro e pelos quais pagam abusivas fortunas ao fisco no momento da compra e em incontáveis momentos posteriores.
Pois bem: se os carros transportarem crianças, não haverá cigarro para ninguém. O sr. da Costa explica: "Está demonstrado que a concentração de fumo na parte de trás do veículo é muito grande, além de que os plásticos ficam embebidos por material carcinogénico que vai sendo lentamente libertado" (o homem não aprendeu português, mas é versado em análises minuciosas a habitáculos).
Por acaso, também está demonstrado que a concentração de poder nas mãos de nulidades estimula a arrogância e é prejudicial ao sossego alheio. Por mim, frequento poucos restaurantes, raramente vou a cafés, não fumo no carro e nunca, nem sob ameaça de arma, conduziria na companhia de uma criança. Mas mesmo quando a opressão não nos atinge, a opressão incomoda. Mais do que o tabaco, o qual, aliás, possui a virtude de abreviar a partilha de um mundo absurdo com incontáveis srs. da Costa. Um já sobra. Ou sobramos nós.
Sexta-feira, 1 de Junho: Cinzas
Interditar o fumo nos restaurantes (e aparentados) significa condenar de vez um sector que, só no primeiro trimestre do ano e sem a ajuda do Governo, despediu 15 900 funcionários e registou uma queda de 30% no negócio.
Por espantoso que pareça, se ainda nos espantarmos com alguma coisa, é isto o que um obscuro secretário de Estado da Saúde, um tal Leal da Costa, anunciou todo contentinho: até 2020, será proibido fumar em todos os "espaços públicos". Razoável? Com certeza, se os protótipos de governantes não considerassem públicos os espaços privados que o Estado assalta materialmente e, pelos vistos, agora orienta espiritualmente.
De resto, a restauração é apenas um exemplo dos alvos da "lei de restrição de não fumo" (é verdade, o sr. da Costa não subiu na carreira graças ao domínio da língua). Outro exemplo são os carros particulares, perdão, os carros públicos que os cidadãos compraram com o seu dinheiro e pelos quais pagam abusivas fortunas ao fisco no momento da compra e em incontáveis momentos posteriores.
Pois bem: se os carros transportarem crianças, não haverá cigarro para ninguém. O sr. da Costa explica: "Está demonstrado que a concentração de fumo na parte de trás do veículo é muito grande, além de que os plásticos ficam embebidos por material carcinogénico que vai sendo lentamente libertado" (o homem não aprendeu português, mas é versado em análises minuciosas a habitáculos).
Por acaso, também está demonstrado que a concentração de poder nas mãos de nulidades estimula a arrogância e é prejudicial ao sossego alheio. Por mim, frequento poucos restaurantes, raramente vou a cafés, não fumo no carro e nunca, nem sob ameaça de arma, conduziria na companhia de uma criança. Mas mesmo quando a opressão não nos atinge, a opressão incomoda. Mais do que o tabaco, o qual, aliás, possui a virtude de abreviar a partilha de um mundo absurdo com incontáveis srs. da Costa. Um já sobra. Ou sobramos nós.
A praça e o comércio
Há um mês, António Costa afirmou que o sucesso dos descontos no Pingo Doce provou que os portugueses têm medo. Eis uma boa altura para medir o nível de pavor dos lisboetas em particular, agora que um outro supermercado realizará promoções em pleno Terreiro do Paço. No próximo dia 16, o Continente despejará gado, chouriços, leguminosas e "Tony" Carreira na Praça do Comércio, a pretexto de um piquenique e em colaboração com a autarquia a que António Costa preside. O vereador Sá Fernandes, especialista na consignação de espaços públicos para patuscadas, explica que o evento dará a conhecer "animais que muitas pessoas não conhecem". O gnu? O ornitorrinco? Decerto não será o urso, a figura dos que acreditaram que o "Zé" fazia falta à capital e acreditam que o António, putativo candidato a Belém, faz falta ao país.
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