Este ano não fui à Feira do Livro. Uma bizarra combinação de circunstâncias entre cansaço, calor, chuva e contenção financeira assim o ditaram.
Ao ver as fotografias do pós Feira do Livro, nas revistas cor de rosa, uma questão assaz pertinente assoma-se à moleirinha... Tanta gente que faz outras coisas e, de repente, escreve livros... Hmmm! Pessoas que até achava que nem sabiam escrever, andaram por lá a distribuir autógrafos.
Giro!
Graças à Margarida Rebelo Pinto (prometo que não lhe chamo nomes, hoje estou zen), passámos de um povo que não lia, para uma nação de leitores compulsivos. Agora, chamar-se livros a algumas das coisas que aparecem nos escaparates, é ir muito longe!
Porém, da mesma maneira que foi moda dormir com cromos da bola, depois DJ's e agora pilotos de automóveis ou modelos 10 anos mais novos, ou vestir calças cor de laranja, também cozinheiros, actores, call girls, princesas, comentadores de qualquer coisa ou ASPONES* passaram a usufruir da moda de escrever um livro. Vá, como se tira uma fotografia.
Sim, acho assim pró' treta. Mas há quem compre as folhas-de-papel-encadernadas-que passam por-putativos-livros, portanto alimentemos o bicho com adubo que o faça crescer. Mudar a alimentação, aparentemente, não é opção.
Não confundir a minha náusea com dor de corno. Eu sei que dificilmente escreveria um livro. Eu gostava. Mas tenho perfeita noção de que me falta genialidade, paixão, talento e disciplina. Logo, nem me posso queixar da falta de oportunidades. Eu não tenho capacidade de escrever um livro, não me atordoa que haja quem consiga publicar ... como dizer, vá, coisas poucachinhas.
Não obstante, não deixa de ser interessante, em termos sociológicos, que se lancem poucos (pouquíssimos) bons livros portugueses (e não estou a contemplar livros técnicos, que podendo ter muita qualidade, estão relegados para os seus nichos) mas fantochadas saiam para a rua como se fossem a ultima coca-cola do deserto.
Curioso este país. É de cortar os pulsos.
*ASPONES = Assessores de Porra Nenhuma
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