Conheço a Luísa desde que vim ao mundo. Ou seja, ela já me anda a aturar há muitos anos. Três décadas e meia para ser mais exacta (esperem um bocadinho que vou ali suicidar-me e já volto...).
Não sei bem o que ela achou de mim quando me viu. Mas dela, desde que me lembro, foi paixão. Total. Adorava ir buscá-la ao aeroporto. Havia sempre uma caneca ou sandes de avião aqui para a tonta. E Oreos. Eu comia Oreos antes de sequer alguém saber que existiam.
A Luísa enchia-me de presentes, o que para mim é meio caminho andado para eu ADORAR a pessoa, admito. Depois fazia-me rir: porque arranjava discussão com quem quer que fosse que andasse connosco, em bando, tipo acampamento de ciganos.
Quando penso na Luísa, recordo dos passeios forçados à beira de água, na Foz do Arelho; comer caracóis ao fim do dia, farturas à noite; sumo de laranja aos pequenos almoços nuns copos de vidro que pareciam bordados; dormir no chão lá de casa; um brutal escaldão em dia de nevoeiro que me levou as unhas ao negro e o corpo a tremer e ela a besuntar-me de creme, no Baleal, metidas numa casa de banho de uma esplanada de praia, aflitas para que o pai não se apercebesse da gravidade; das saladas de fruta que ela me fazia quando eu estudava para os exames na faculdade e a mula gozava férias; de me levar às farmácias canadianas e eu andar por ali extasiada a ver as prateleiras; das alergias estranhas que a atiravam ao tapete; as idas à tourada.
A Luísa era a pessoa que me puxava o cabelo quando fazia o sacana do rabo de cavalo; que me dizia para encolher a barriga, sempre, para não criar estômago (eu tinha 5 anos!); que me mandava parar de ler que era uma chata sempre com livro agarrado às mãos; que me chamava chata e comichosa (admito, sou filha de pai e sou muito de nojos e nada de saltar rchas e coisas assim fora do "certinho").
E a festa que era quando ela decidia irritar tudo e todos quando decidia uma coisa e mudava de ideias duas a tres vezes em menos de 10 minutos sobre os planos para o dia. Era sempre como ela queria.
No entanto, é essa Luísa que sempre admirei. Forte, decidida, frontal, senhora de si mesma. Um modelo. A Luísa representa o que para mim é família. Deu-me amor, carinho e a mão quando eu mais precisava. Apesar da distância é uma força que nunca me deixou cair. Todos os anos desejava que eles voltassem para Portugal. Fazem-me falta. Tanta.
A Luísa foi alguém que esteve à altura de quem me abandonou. A Luísa é mãe da minha irmã e avó da minha afilhada. Dava a minha vida pela Luísa (e pelo meu padrinho também!).
Há 18 anos, no seu desvario muito próprio, a Luísa entregou-me a outra mulher de excepção. Só podiam ser grandes amigas. A mesma energia, pelo na venta e determinação. E a gargalhada. Apesar de todas as merdas que acontecem na vida, estas senhoras (com "S" maiúsculo) não esmorecem, não baixam os braços e dão o corpo às balas. E depois fazem disparates e é a risada total.
Naquele Verão a Odete, de repente, tornou-se importante para mim. Toda ela é vida, boa disposição e cabeça erguida. E mente jovem.
Disseram-me há uns tempos que tive muitas vidas passadas e, por isso, tendencialmente dou-me melhor com pessoas mais velhas que eu. Ou é isso, ou é do facto de vocês serem especiais de corrida, a verdade é que vos adoro.
Ao saber que diariamente me visitam aqui no Blog, fez-me chorar desalmadamente. De saudades, de falta do vosso mimo, e de orgulho.
Muito, muito obrigada!
Beijos às duas!
Comentários
By the way, you almost brought me to tears. I miss you very much and wish I could see you again soon.