No Brasil, como ontem li no Facebook de alguém, o "Diabo veste Zara".
Desde que foram descobertas fábricas de fornecedores do Grupo Inditex, no Brasil, que usavam trabalho escravo ou, no minimo, exploratório, há uma contestação feroz à marca, no limite do boicote. Há uns anos em Portugal também se descobriram umas fábricas de calçado que usavam mão de obra subcontratada para coser manualmente modelos mais detalhados, recorrendo a famílias carenciadas incluindo crianças que faltavam à escola para estar o dia inteiro naquilo. A Inditex não era a única empresa que recorria a essas fábricas de sapatos e quando descobriu, adeuzinho que se faz tarde.
É dramático? É. Muito. A miséria oferece-se sempre como livre caminho para as pessoas sem escrúpulos. As marcas, obviamente, têm que ter critérios de avaliação muito mais estritos e exigentes, a montante e a jusante, dos parceiros com quem "se metem na cama". Não podem "vacilar" e confiar. Não sendo directamente responsáveis, são a face visível e levam com um electro-choque na credibilidade demasiado grande. É claro que muitos daqueles que contestam, agora, a Zara, no país que seja, provavelmente usam Nike na boa (mesmo aquela irritante aplicação dos Kms corridos J). Vão lá inspeccionar TODAS as fábricas de calçado e vestuário e depois tirem as devidas conclusões.
Não obstante, se os brasileiros aplicassem o mesmo standard de ultraje, face à Zara, ao consumo de droga (sobretudo, aquele recreativo, social, ainda não ao nível do viciado mas na base do charro para descontrair com amigos, de vez em quando), os senhores do BOPE seriam gajos muito mais bem dispostos e não teriam que recorrer amiúde ao saco de plástico.
Está visto que só no Domingo vi o Tropa de Elite 1 (sim, sei, sou uma vergonha). Não o considero mega violento e, sim, é um bom filme. Do pouco que conheço do Rio, e do que li no Brasil, ou vi na TV local ou do que falei com "cariocas", aquela voz off vai acertando em tudo com a exactidão de um sniper.
Agora, quantos defensores e apologistas do filme, em todo o mundo, que escreveram textos de louvor, criticas positivas e deram prémios, não perceberam a mensagem mais elementar? (muitos). Aquela que bate no ponto sensível: quantas crianças / jovens vão ter que morrer no tráfico para quem viva fora da favela possa fumar um charro na praia, num concerto, no Bairro Alto? Ou para fazer uma linha numa saída à noite mais acelerada? Aquilo que para muitos é normal e e dado como aceite na sociedade, resulta de um processo, esse sim, violento, numa subcultura de exploração (começa muitas vezes na produção), de subserviência e morte. Tudo para que um adolescente ou um adulto, remediado, classe média ou rico, possa fumar o seu charro no intervalo das aulas, ou à varanda, depois de um jantar com amigos.
Como diria o Matias, no fim do filme, "maconheiros burgueses de merda". Na mouche!
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