O dia do casamento chegara com os nervos próprios de noiva. Ela tremia, de vez em quando, mesmo estando só no quarto de hotel onde se havia preparado com o vestido branco, caro e perfeitamente ajustado ao corpo. No mesmo quarto onde lhe haviam penteado o longo cabelo louro num puxado perfeito e elegante. Onde a haviam maquilhado em tons de uma beleza intocável.
Sentada no tocador, olhando-se ao espelho, manifestava uma aparente calma mas os olhos bailavam agitados, receando que algo estivesse fora do sitio correcto. Os sapatos de salto desafiador aguardavam, alinhados, ao lado da banqueta. As flores, num arranjo sem mácula, estavam à sua frente, prontas a desfilar por entre o publico que aguardava a grande festa. O perfume, mandado fazer por encomenda, para ela, para a ocasião, jazia no frasco de vidro minimalista depois de o ter espalhado com estratégia cirúrgica na melena, no pescoço, nos pulsos.
Bateram à porta. Duas pancadas secas. Era o aviso. Faltavam cinco minutos.
Arqueou os ombros desnudados em tensão, os ossos da clavícula arqueados pelo grau certo de magreza ficaram mais salientes e os pendentes de diamante e ametista balouçaram nas orelhas.
Levantou o queixo, olhou-se mais uma vez e estava confiante do impacto da sua beleza e da sobriedade do seu porte. Era o dia mais importante da sua vida, diziam-lhe. Todos os encómios de sobranceria e altivez com que era contemplada hoje eram abafados pela grandeza da festa.
De pé, endireitou o vestido, compôs a mecha de cabelo mais teimosa e dirigiu-se à gaveta. Com o mesmo modo frio como tratava tudo à sua volta pegou na lamina e cortou de um golpe seco a garganta. O encarnado derramou pela alcatifa creme como amêndoa e o corpo caiu com a subtileza que não teve em vida.
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