Ali estávamos. Sem assunto e com tudo para dizer. Num
lento avançar para conquistar espaço ao outro como se fossem pernas a
esticar-se num sofá, encostadas a outras, encaixando de modo natural duas
pessoas em descoberta, sob o efeito de embriaguez de Michael Kiwanuka e de um
frio cortante.
E estávamos ali. No perfeito desconhecido entre o abismo
do que pode acontecer e a redenção do que se nos pode oferecer. Faltava somente
um sinal. Um inclinar do olhar que despertasse a torrente de afectos contidos
mas sedentos de encontrar uma finalidade.
Ali jazíamos tímidos e voluntariosos, com a mente a 1000
sob uma falsa calma, distantes e territoriais, sequiosos de nos rendermo-nos ao
apelo do outro. E ali ficámos. Ainda ali estamos. Faltou a coragem para
derrubarmos as almofadas, experimentar os beijos do outro, perceber que fazia
tudo sentido, que o sabor era uma questão sem questão. Estamos paralisados pelo
medo. Do que implica gostar.
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