Todos dias. Todos dias construímos um pouco de felicidade. Pode ser efémera. Pode não ser um continuo mas andamos
de mão dada com ela.
Apenas um
elogio de alguém que não nos conhece. Um abraço apertado de alguém a quem
chamamos amigo. Uma gargalhada honesta e profunda que liberta uma descarga de
bem estar. Aquela música que de repente o DJ passa e nos arrasta para a pista e
dançamos de olhos fechados, numa trip só nossa. A sensação de alívio e
satisfação por algo que correu bem. Ver o nascer do sol quando já começa a
puxar o calor. Embrenhar-nos num livro que nos afasta de tudo o resto. A emoção
de um bailado tão vibrante como subtil. As festas no cabelo à laia de proteção
quando nos recolhemos nos joelhos de quem nos ampara para chorar os cortes. Os
golos do Jonas. O primeiro mergulho no mar e o tempo parar, por entre sal e
solidão. Entrar nos jeans que não são vestidos há um ano. A mensagem que chega
de surpresa e nos ilumina o rosto e dispara a adrenalina apesar do texto mais
pateta. A troca de olhares momentânea em que o click dispara a corrente
elétrica da mente e do corpo. Quando acordamos e nos aconchegamos ao outro,
naturalmente, e baixa-nos a segurança que é ali que queremos estar. Pão com
chouriço quente e uma fartura, madrugada adentro.
Vamos
recolhendo episódios de felicidade que enchem álbuns preciosos ao longo da
nossa vida. Pequenas coisas no dia a dia. Grandes coisas que nos esmagam.
Situações que só nós entendemos, o que as torna ainda mais especiais por
apropriação do irrepetível.
Nunca
estamos satisfeitos. Temos que estar sempre bem e felizes, mesmo quando nos
bastaria paz de espírito para ter o discernimento de saber o que são estes
rasgos de felicidade, e perceber quando acontecem e saboreá-los com gosto.
Prefere-se a frustração, a sensação de incapacidade de ocupar o vazio, a dor
latejante que tão amiúde nos é infligida e não deixamos ir. Demónios do passado
ou medo do futuro ganham sobre a gratidão do presente.
Será
fácil? Esquecer o que nos fizeram, ou os nossos erros, libertar-nos da
ansiedade do amanhã? O peso é muito maior do que apenas sentir o instante. Mas
são os apontamentos de felicidade que se nos ocorrem que nos devem encher o
caderno emocional onde registamos as nossas passadas.
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