Ninguém apostava em nós. Somos o cavalo perdedor com boa
pinta mas com todo potencial de desastre.
Até nós não estávamos cientes da onda que nos ia assolar.
Nem tínhamos muita noção que existíamos um para o outro. Convivíamos,
inquietávamo-nos, desafiávamo-nos, provocávamos guerrilha entre dois cérebros
rápidos e respostas matreiras. Somos da mesma massa, saborosa, mas difícil de
moldar a qualquer recipiente. Questionámos toda a doutrina de que os opostos atraem-se
e geram o equilíbrio. Um erro. O balanço que esse quadro afina vai esconder os
desejos mais arrivistas, ou mais tranquilos, de pessoas cujo ritmo se torna a
cada dia mais distante. Alguma chama se extingue pelas circunstâncias. Alguém
morre enredado na rotina.
Somos ambos indomáveis e soltos, espontâneos e prontos a
ir. Não interessa onde. A experimentar. Algo novo. A ter curiosidade sobre tudo
desde o mais banal e pouco perceptível ao mais grandioso e óbvio. A olhar com
profundidade quase letal os outros e não ter misericórdia na avaliação. Somos
imediatos e intensos. E compreendemos o caminho ainda que nem saibamos onde
estamos para começar. Tudo é uma aventura nos mesmos valores e ideais.
Somos mordazes a roçar a crueldade, uma forma de
auto-estar. Com os outros, como um jogo de provocação constante. Inato. Sem
maldade, ou então com terrível ida directa aos ossos.
Pode ser uma aventura assaz dolorosa quão surpreendente e fulgurosa em adrenalina. Rasga o interior e incendeia a imaginação. Esmaga a
opacidade. Inebria a clarividência. Treme o discernimento. Todo o tremor e
êxtase estão à tona. Vivemos com os sentidos, com a paixão, com a fome de ter o
mundo, com a intensidade que escapa à grande maioria. A todos. Somos nós em
carne viva.
Amo-te e vivo-o com esta entrega e constante imediatez.
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