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O Clube Social

Ser-se parte integrante de um grupo pode ser uma epopeia. 

Mesmo numa sociedade como a tuga, em que comandam 2 grandes grupos, Opus Dei e Maçons (e esses, bem cada um sabe de si em querer lá entrar!), e depois há pequenos círculos e pseudo grupinhos de uns quantos pomposos armados ao pingarelho, mas nada comparado com os clubes que a sociedade anglo saxónica promove desde a primária. As universidades da Ivy League americanas, Cambridge, Oxford e LSE em Inglaterra são o expoente desse contexto. Há as fraternidades, os clubes associados aos cursos, as sociedades secretas e os final clubs.

Mas esteja-se em Princeton ou na Secundária de Benfica, "pertencer" é uma tarefa hercúlea.  Dolorosa, mesmo. Há quem o faça com naturalidade, que já nasceu para ser parte de um grupo; há quem por tentativa-erro se vai encontrando e gerando o seu alvéolo; há quem busque, incessantemente, colher um bocadinho de vários ambientes por não se completar em nenhum; há quem simplesmente seja um outcast, alguém tão especial (para o bom e para o mal) que não há categoria que lhe resista.

Mark Zukerberg é o protótipo do nerd, de mente brilhante e raciocínio rápido, mas com a sensibilidade nas relações pessoais de um Maniche, sem chuteiras mas de chinelos de piscina.

Mark Zukerberg by Jesse Eisenberg









Não sei o que dizer do filme A Rede Social, ver aqui

Sou fã do Aaron Sorkin desde o West Wing (e o que eu gostava do maltratado Studio 60 on the Sunset Strip). A arte dos diálogos nos seus argumentos é iluminada. Há riqueza, profundidade, critica mordaz e uma dinâmica (sempre) bem construída. 

Sou fã de Fincher: o 7even e o Benjamin Button são referencias da minha modesta colecção cinematográfica, além de que os vídeos da Madonna são magníficos (lembram-se do "Vogue"?)  

Os actores principais, Jesse Eisenberg e Andrew Garfield, nasceram em 1983. Só isso, dá que pensar. Tão novinhos!!! No entanto, estão excelentes.

Jesse Eisenberg tem um papel que ele equilibra com mestria. Entre o anti-social ferido no seu desencaixe e que se vinga de todos aqueles que não o resgatam da sua marginalização; e o patinho feio inteligente, mais inteligente do que os demais inteligentes, visionário e que vive com a sua timidez, motor das suas façanhas,  mas que esmaga com discernimento assertivo sempre que lhe pisam a auto-estima. 

De certa forma, Mark Zukerberg é o anti-herói que nós, aqueles que não são cheerleaders nem reis da popularidade, com rabiosque virado para a Lua (a roupa cai sempre bem, o peso sempre ideal, os  convites para as festas giras aparecem a tempo e horas, etc.), respeitamos porque dá uma mega bofetada ao mundo que não o quis incluir. 

Desculpamos que possa ter-se apropriado de um conceito (no filme, a linha é ténue), desculpamos que seja insensível ao ponto de criticar a universidade onde estuda a única mulher que lhe fala, desculpamos tudo porque no fundo ele está a vingar-nos. E porque ele criou o Facebook à medida daquilo que era o seu contexto: um clube, à partida reservado, em que se pudessem partilhar momentos das nossas vidas, com os nossos amigos e se tivesse um update geral do que se passava com as pessoas que conhecíamos ou que pudéssemos estar interessados.

Sou muito suspeita. Aderi ao FB com interesse qb e hoje sou uma acérrima participante e defensora do conceito. Não deixo de ter a minha rede social one-2-one mas no FB vejo as noticias, meto-me em fóruns de debate com pessoas que não conheço a discutir temas que de outra forma não estaria a equacionar e a ouvir as opiniões dos outros, mantenho-me mais activa com os meus amigos mais próximos (com quem às vezes estava semanas sem falar), reencontro pessoas que já não via há anos, envolvo-me em projectos de solidariedade e uso como ferramenta de trabalho. O FB é a minha praça publica e o meu espaço comunitário. E, sim, às vezes a minha companhia quando me apetece estar só sem estar sozinha. Com o FB ligo-me ao meu centro e posso buscar novos satélites.


Estou a borrifar-me  para quem critica o FB como destruidor das relações humanas (pelo contrario, pode ampliar e fortalecer) ou a estocada final na privacidade... Como em tudo, é o bom senso de cada um que dita até onde se vai no FB. 


Zukerberg, movido pela vontade de criar um clube onde ele fosse presidente, ou um clube em que todos quisessem estar, ou pelo desejo do ego, criou algo especial que não lhe terá trazido paz, mas pelo menos dinheiro e reconhecimento. 


Assim, é um filme, sem heróis nem vilões. Até os gémeos saídos do catalogo da Brooks Brothers têm um piadão. 


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