Quando eu era pequena, e passava para a cama dos meus pais, nas manhãs de fim de semana, depois de me aninhar no quente do lado que a mãe deixava vazio e dormir mais umas horitas, quando acordava, ficava no meu cantinho a contemplar o meu pai, que dormia sempre de forma tão relaxada e sonora.
Adorava estar naquele momento com ele, sem mais ninguém e aquelas manhãs foram como que um santuário meu durante imenso tempo e hoje, tantos anos passados, são das memórias mais saborosas, das poucas. Se pensar muito, acho que os melhores momentos que vivi na minha vida, até te conhecer, foram na infância. O pai adorava-me, eu idolatrava-o, éramos iguais, cheios de genica, de força, divertidos, a mesma gargalhada sincera, o mesmo tom de voz alto, a mania de ter a última palavra.
Recordo este cenário porque encontro a mesma magia no mundo que tenho desde que te deixaste ficar comigo.
Tal encantamento é de tal forma intenso que inebria, esmaga os sentidos e a razão porque de repente existe sempre um canto em que tudo pode estar bem, nem que sejam durante cinco minutos. Durante esses instantes o medo passa. E eu ando assustada com tantas coisas, as do costume, e as que vão sendo acrescentadas à lista. Era bom que, esgueirando-me para a tua cama, enquanto dormisses, na calma de uma manhã de fim de semana, ao lado de ti adormecido, pudesse esquecer os demónios que me perseguem. Tu fazes sempre parecer que para mim há esperança quando só vejo as coisas mais a bold, ou seja, tristes.
Estou muito desiludida com o meu falhanço, com a notória solidão que me cerca, com a incapacidade em até agora ter feito algo grande, que tivesse tido realmente importância. Cheguei à conclusão que só tu estás comigo, portanto se um dia decidires ir para outras paragens, estou reduzida a mim e à minha sombra… não estarei muito sozinha porque a minha sombra, malfadada, continua grande.
Sou eu que sou má pessoa, exigente em demasia, cruel na maneira de ser, desinteressante? Bem, alguma coisa deve ser. Sinto-me como o próprio Titanic na noite da desgraça, abandonado por todos.
Apesar dos meus desabafos não quero que te sintas preso a mim.
Que te acomodes à situação por teres pena de mim e eu não ter mais ninguém. Eu sobrevivo, a sério. Quero que sejas muito feliz. Que vivas com momentos de magia como te descrevi . Que te sintas amado e que devolvas o sentimento de forma límpida. E totalmente recompensadora para ti.
(mónica pinheiro, autoria)
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