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To be or not to be... transparente



Têm-me dito com alguma regularidade que sou muito transparente. Que a minha cara revela todos os meus estados de espírito. Recorrentemente.


Quero acreditar, ou entrar em negação, de que são palavras pedagógicas, sinais de alerta para melhorar. E não tanto, recriminação pura e dura por não ser "poker face". No entanto, como diria o Baixote Palmeirim, "eu sei lá, eu sei lá".


Mas a verdade é esta: qual é o mal de mostrar que não gosto quando não gosto? Pois, porque não se trata de valorizar alegria espontânea; é o oposto que leva à chamada de atenção.


Teremos que estar sempre com ar de gaja em exposição de carros, sorridente perante todo e qualquer idiota que passe e faça comentários? Temos que ser fingidores natos? Ou simplesmente refrear as emoções para melhor fazer bluff?


A minha atitude pode ser estranhamente defensiva. Mas faz-me espécie. Acho que ao fim de 35 anos já tenho alguma sensibilidade para saber quando não mostrar a "mão", ie em que contexto devo acomodar as expressões à situação. 


Porém, fazê-lo a todos os momentos? É que nem no MNE se aguenta um ambiente assim! 


Apesar de ser contra a anarquia, caramba, nisto acho que mantenho uma atitude revolucionária. Fingir o que não sou? Fomentar o cinismo? Não ter o direito de, no local próprio, manifestar a minha  opinião? Isto não só é contra-natura como me parece que é pouco saudável, visto termos que conviver de forma dissimulada. 


E depois, faz-se o quê? Solta-se a verve opinativa pelas costas? É tudo muito frontal, o tanas!


Não deixa de ser sociologicamente engraçado, ou triste, até que ponto este "piqueno" faux pas me prejudica ou prejudicou. 


Mesmo assim, e depois de alguma reflexão racional (momento raro, ahn!) gosto muito da minha consciência. E, essa, mui estimados leitores, não me dá chatices nem falta de sono. Por muito infeliz que eu esteja, não é por questões de consciência.


Ainda bem!

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