De todas as vulnerabilidades
que pode ela ter, ele é quem mais lhe vinca a alma. A mais rasgativa e sem
explicações.
É o som da madeira a estalar que por vezes se ouve, do nada,
inusitadamente, sem saber como e de onde aparece. Ele é a caneta que se
procura até desistir, se julga perdida e, subitamente, aparece à descarada no
sítio mais óbvio. Ele é como uma nota abandonada num casaco que já há muito não
se usa e, por surpresa, se amarrota sob os nossos dedos nervosos, quando nos refugíamos,
à procura de uma atenuante de ansiedade, mãos nos bolsos.
Assim é ele, esse inexplicável bloqueio dela.
Tudo remonta ao que
ele lhe vetou, a esses olhos tão doridos como vivos, tão carentes como
assassinos, à voz tão destruidora como radiofónica. Aos beijos dele sem igual,
brasa ardente que foi carnificina.
A imagem que ela guarda
dele é uma sombra que a corrói. Não é boa, não é má, não existe mas perdura.
Inequivocamente, ela não existe para ele e isso só lhe faz lembrar o falhanço
que é ainda ele residir nela.
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