Somos carinho em pó. Junta-se água, mistura-se e temos
uma dose quente de conforto e um abraço próximo. Porém, somos aço. Impenetráveis e
encerrados quando nos ferem. A pele, o ego, a confiança.
Pedem-nos autenticidade como paradigma último. Não
obstante, mesmo quando julgamos estar na zona de cessar fogo, estamos sob olhar
cerrado pela nossa diferença. Pelo que nos apetece. Pelo que pensamos. Pelo
modo como nos deslocamos. Diferente. Essa estranha forma de vida. Esse querer
de outro modo. Esse desejar mais. Essa fantasia com a luxúria material e dos
sentidos.
O hedonismo passou à ilegalidade ou de tão
incompreendido apenas deve ser banido pelo desconforto que provoca nos que nos
são próximos?Amamos de menos quando tanto mais usamos apenas o corpo.
Amamos a mais coisas como se a nossa noção de belo não tenha valor. Nem que
seja para nós.
Ser genuíno é como pregão de feirante. Vale o que vale.
Não vale a pena ser por inteiro porque vai sempre colidir ou incomodar alguém.
O amor próprio e a segurança dos outros não está nas nossas mãos para calibrar
na dose certa.
Como em qualquer lugar relação, podemos estar nus mas
mesmo assim temos que estar cobertos.
Lição esta dos anos. Não, nunca podemos revelar-nos como
somos. A ninguém. O modo como nos olhamos em espelho não coincide com as lentes
dos óculos dos demais. As leituras são únicas.
E neste processo complexo,tantas vezes custoso, a que
chamamos dar-mo-nos não podemos assumir nada como certo nem baixar nenhuma barreira.
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