Cheiro a ti. Deixaste esse cheiro pela mesa, entre os copos vazios. Pelo quarto apesar das janelas abertas de ausência. Pelos meus cabelos tão revoltos de gente perdida como a ansiedade do meu estado de espirito.
Deixaste o teu cheiro nos meus pensamentos com a mesma violência como desalinhaste o meu interior longínquo, remexeste o caminho com saciedade e com a facilidade de peregrino que sabia o trilho.
Tenho o teu cheiro colado a mim e não sei como esquecer esse frenesim na espinha. O desejo não aplaca a falta de expectativas nem o som acelerado dos teus olhos quando te faço rir.
Deixaste o rasto do teu cheiro preso no corredor escuro, entre livros, gemidos, saudade inconfessável.
Ficou o teu cheiro algures numa rua que atravessei em sentido contrário, sob a chuva fria, calçada íngreme, passos incertos, sem receios, só o prazer do teu cheiro a devastar a carne em rodopio.
Nada mais que o teu cheiro, nem forte nem doce. Só teu. Intransponível.
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