Avançar para o conteúdo principal

Missin' you like crazy

Com o olhar doce com que insistes em pousar esse quente no meu rosto, fazes-me ter vontade de te dar o mundo e as aventuras que o fazem girar, o colorido das manhãs nascidas sobre o mar, o som que sai dos rádios e me aproximam de ti.

Com o gesto meigo com que me puxas para os teus braços, sinto o solavanco emocional de te ter por perto e tremo como insana pelo prazer que me dás ao mexer no meu cabelo, que corre solto na nudez do teu peito, enquanto baixas as mãos pela brancura das minhas costas.

Com o sabor teu que me deixas nos lábios, recordo o vento de arrepiar dolente de outras noites em que histórias ditámos para os lençóis que nos tapavam e nos aproximavam do mesmo sonho, tu guiando o caminho vencido pelo cansaço, eu acompanhando para me manter perto de ti mais tempo.

Com a gargalhada que te caracteriza enches o espaço em que parece que mais ninguém existe, anulados pela força que nos atrai, como se os tivesse apagado para te desfrutar devagar, nos momentos que são parcos pelo tanto que te queria revelar, pelas estrelas que contigo queria ver, pelo silêncio que contigo queria partilhar.

Com o sorriso de criança que me deitas, convidas a que me esqueça das forças que puxam para o chão, que arrastam para os dias mais agrestes, que escondem o azul do céu em Lisboa; e sinto novamente o chão a tremer quando me sorris e nada tem o mesmo valor a partir daí, tudo se confunde e se mistura, as cores trocam-me as voltas e sinto-me perdida em ti.

Com o modo decidido como me puxas e me roubas o calor, sinto-me navegar para longe, saciada e sem limites, entregue a ti, presa a nós, livre pela satisfação, rendida por me sentir tua e preenchida pela calma avassaladora que em mim depositas; e o mundo parou sereno enquanto regresso, plena de bem-estar.

E então tudo sossega, na minha cama sinto o teu aroma colado ao corpo, com a mesma intensidade com o que está colada a mim a memória da primeira vez que te vi, do teu sorriso e daquela necessidade que tinha de te vislumbrar, de te ouvir, sem perceber porque pequenas doses de ti me consumiam com aquele crivo de remoinho e ansiedade. E hoje tenho-te, sem ter mudado a tua força.




 (mónica pinheiro, autoria)

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Os lambe-cus (MEC)

Os Lambe Cus, by Miguel Esteves Cardoso   "Noto com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da revolução de Abril. Situa-se na área da ginástica corporal e envolve complexos exercícios contorcionistas em que cada jogador procura, por todos os meios ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber o cu de um jogador mais poderoso do que ele. Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de um agente da polícia ou de um artista. O objectivo do jogo é identificá- los, lambê-los e recolher os respectivos prémios. Os prémios podem ser em dinheiro, em promoção profissional ou em permuta. À medida que vai lambendo os cus, vai ascendendo ou descendendo na hierarquia. Antes do 25 de Abril esta modalidade era mais rudimentar. Era praticada por amadores, muitos em idade escolar, e conhecida prosaicamente como «engraxanço». Os chefes de repartição engraxavam os chefes de serviço, os alun

Devo ser a unica mulher

Que gosta do Mr. Big. Pois que gosto.  Enquanto a Carrie era uma tonta sempre à procura de validação e de "sinais", a complicar, a remoer, ser gaja portanto, o Mr. BIG imperfeito as may be era divertido, charmoso, sedutor, seguro (o possível dentro do género dos homens, claro), pragmático.  E sempre adorou aquela tresloucada acompanhada de outras gajas ainda mais gajas e mais loucas.  Fugiu no dia do casamento? Pois foi. Mas casaram, não casaram? Deu-lhe o closet e um diamante negro.  Eu gosto mesmo muito do Mr. BIG. Alguma vez o panhonhas classe media do Steve? Ou o careca judeu que andava nu em casa? Por Sta. Prada, naooooooooo! 

Do acosso

Este calor que se abateu com uma força agressiva consome qualquer resistência.  O suor clandestino esbate vergonha e combate qual sabre as dúvidas.  A noite feita à medida de libertinos cancela as vozes interiores que alertam para mais uma queda dolorosa. A brisa quente atordoa, embriaga no contacto com a pele. O tempo pára, as palavras suspendem entre olhares que sustentam no ar tórrido toda a narrativa; qual pornografia sem mácula, mas plena de pecado. A lua cheia transborda e dá luz à ausência de sanidade que percorre no corpo. Tudo parece possível, uma corrente de liberdade atravessa-nos com o sabor do quente esmagado. E, mesmo assim, pulsa algo mais intenso. Mais derradeiro. Mais dominador. Mais perverso que o toque dos dedos. Mais agressivo que a temperatura irrespirável. O freio da impossibilidade.  A intuição luta com o medo e na arena o medo mesmo que picado tem sempre muita força. O medo acossa-nos.