(texto original: Blogue de Esquerda, 2 Maio, 2010)
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Em criança levaram-me a uma manifestação do 1º de Maio. As sequelas ficaram pra’ vida. Odeio manifestações e sítios com muitas pessoas e confusão, só mesmo na bola e vai lá vai.
A celebração do 25 de Abril e mesmo do 1º de Maio, a cada ano que passa, resume-se, apenas e só, a discursos vagos, cravos que perderam a tonalidade encarnada e festividades para apenas encher os noticiários.
Nasci depois do 25 de Abril. Mesmo assim, a nossa vida, dos nados pós revolução, foi marcada por aquele dia.
Houve, no imediato gáudio pelo fim de um pais bafiento, excessos (nacionalizações) e erros graves (descolonização), mas a grande desilusão, para quem vestiu a camisola revolucionária, veio depois.
Parte dessa geração migrou oportunisticamente à direita, outra aproveitou-se do novo contexto para encher os bolsos, a demais aburguesou-se entre shoppings, a carrinha e a casa em Telheiras.
Os conceitos que alimentaram o 25 de Abril não foram atirados para uma gaveta. Foram enterrados numa cápsula de tempo.
Uma vez por ano, uma geração culpada, lembra-se dos versos de Ary ou Zeca, do tempo em que nas ruas a alegria era promessa de tudo.
Lamentavelmente, a credibilidade anda pelas ruas da amargura. Como diria o trovador, "eles comeram tudo e não deixaram nada".
De repente, estamos em crise e o país está na falência e ninguém, vulgo entidades competentes não deram por nada, ou fingiram que no pasa nada. Andava tudo distraído no Tagus Park, na TVI, nas escutas que ferem o segredo de justiça, ou nas outras escutas que não existiram excepto para um PR que não entendeu o que representa e as figuras, por sentido de Estado (que não tem), que não pode fazer.
Passou-se o mesmo com o gang bang no BCP, com a rebaldaria chique do BNP e o desnorte abusivo do BPP. Vítor Constâncio sai mal da fotografia, mas sai em 1º classe.
Está certo, é uma bela imagem deste pais: quem chega ao topo, com o empurrão, pode ser ineficiente e uma nulidade no que faça, lança a confusão no pais mas ainda vai ganhar mais e ter mais protagonismo. Durão e Vara, pululam na minha cabeça.
A justiça que nos rege, para mal dos nossos pecados, é uma vergonha. Não há inocentes.
Forças policiais e judiciais são um embaraço. A Casa Pia que se arrasta com uma montanha que vai parir um hamster. O Apito Dourado devia cobrir os magistrados, não com uma toga, mas com um pano negro pela péssima actuação. A Face Oculta que criou uma subtribo - as comissões parlamentares de inquérito - que se adora ver no prime time mas que revela o quão fracos são os políticos deste pais.
Nasci depois do 25 de Abril. Acredito no espírito daquela data.
Mas gostava que alguém, que tenha tomado as rédeas de Portugal, desde então, me explique o que fizeram para que hoje, e amanha, eu (da geração dos 30 anos) sinta que o país me oferece algo enquanto eu, que não saí para outras paragens, fiquei e contribuo para a sociedade.
Nem falo do que se vai deixar aos putos porque a esses já falha, grosso modo, a educação quer escolar quer familiar quer de valores.
E, agora, Abril, o que te fizeram, porque houve quem deixasse e como nos safamos desta confusão?
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