Nunca fui gaja de ser alvo de piropos. Os rapazes achavam-me piada como gaja que é amiga de gajos. E era isto. Nunca fui propriamente um ser abençoado pela massagem ao ego. E uma pessoa habitua-se. Nas raras vezes em que alguém teve um devaneio desses, ouvi sempre com um misto de desconfiança e trocismo.
Estou numa relação há mesmo muito tempo. Estou preenchida. No entanto, amor, respeito e confiança à parte, às vezes seria simpático sentir que aos 35 anos ainda tenho algum impacto na ala masculina (vá, e na feminina, porque piropo é piropo, desde que não seja de trolha ou mecânico, siga). Se chateia? Ora, pois que sim. É uma merda.
Se, por acaso, agora ficasse sozinha (sem querer mal ao moço, mas pronto se ele arranjasse a Victoria Silverstead da vida dele, loura, sem celulite, com boa perna e boa mama), por opção própria ía curtir a solidão "na boa". Viver a dois cansa, é preciso gostar muito, ter paciência e uma vontade grande de encostar carinhosamente naquela pessoa. Acresce que a probabilidade de voltar encontrar outro alguém que me dê um "second look" é como a Soraia Chaves vir a ser uma boa actriz. Nula, pois então.
Sou feliz como estou mas não desesperaria se ficasse sozinha. Ficaria muito triste mas sobreviveria e não voltaria a querer recomeçar. Azar!
A minha amiga S. é o que podemos chamar um babe magnet. É um case-study. Já passou dos 35 anos, ultrapassou o fim de uma relação longa, acha sempre que vai ficar sozinha mas tem mel. Atrai espécimes masculinos assim do nada, conhece-os e BAM... não a largam. Aquilo dá alguma movida, mas se acaba, há logo alguém que venha substituir o "esgrunho" que foi para abate. A sério, esta miúda devia ser o EXEMPLO. É gira, inteligente, boa pessoa, preocupa-se com os outros mas não é a típica "gaja boa". É engraçada e passa o teste do bikini com distinção (rebenta a escala) mas não é o protótipo da femme fatale. Pode ser atitude porque também não é um bastião de segurança pessoal. No entanto, uma pessoa fica com dor de cotovelo do sucesso que ela faz. No mínimo, a sua auto-estima arriba.
M. é bem mais nova. Não devia ter sequer preocupações de ser solteira e ser trintona. Quando arranjada é bem catita! Sedutora. É uma mulher com piada, ideias próprias, teimosa mas meiga e com cabeça. Sente-se só. E parece ridículo não conseguir uma relação estável que lhe encha as medidas emocionais. A meu ver, é uma questão de tempo e de não ser tão ansiosa. Há-de aparecer. Quando menos ela esperar. Depois dos canalhas, algum gajo decente tem que lhe dar a glória que ela merece. Mas a ansiedade tolda-lhe as emoções (e daí algumas mazelas) e gera-lhe tristeza.
H. tem quase 40 anos. É fabulosa. Alta, bonita, deslumbrante. É e será uma eterna solteira. É daquelas mulheres que faz com que os homens até se inibam de se aproximar. É intelectualmente desafiante, profissional aplicada, a drop dead gorgeous, cheia de segurança e senhora do seu nariz. Faz parte do grupo de mulheres que tem por certo que vai ficar sozinha. Porque já tentou e já percebeu que não é feita para a vida a dois, aburguesada, com as suas rotinas. E mesmo que sinta a casa, por vezes, vazia prefere estar assim do que ter que aturar outra alma, por muito boa pessoa que seja.
Cada mulher é uma mulher. As angustias, dores e risos são gerados por tanta coisa em comum mas tanto mais pelo que nos distancia. Um denominador em comum .... Insatisfeitas.
O repouso do guerreiro de uma, é o desasossego de outra.
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