Ando a remoer há dias o que escrever sobre o que é hoje Portugal.
Raramente me faltam as palavras, mas tem-me faltado a vontade. É triste. Só isso. É triste dizer que sou de Portugal. Até a mim me envergonha.
Esqueçamos, por momentos, as realizações e o empreendedorismo de alguns, a linha de praias, o futebol, a Mariza, a cortiça, o golf.
Esqueçamos a "troika", que era inevitável que chegasse e que trabalhasse enquanto o país foi de férias.
Esqueçamos a Frau Merkel, tão mal-tratada porque a culpa é sempre de alguém que não nós.
O que emergiu, ao longo destes meses de PEC's, de discussões infindáveis, de roadshows ministeriais a convencer a Europa que não estamos assim tão mal, do ataque cerrado das agências de rating, do governo que se demite, da oposição que tomou ácidos e anda a ver porcos a voar, e do infindável lote de comentadeiros que foram saltando para o prime time das TVs, é o que eu estava convencida ser uma verdade e agora está clarinho como água: temos uma classe politica de merda.
Sem contemplações. Pode haver algumas excepções de esforço em abono do serviço publico, mais na retaguarda do que nos que ocupam lugares de projecção, mas é obvio que Portugal entrou numa espiral de destruição a partir do momento em que os Tugas se demitiram de exigir e de responsabilizar os políticos em quem votam. Caramba, isto é um povo que consome má televisão, mau jornalismo, má justiça, mau sistema de saúde e de educação, sem FAZER NADA, excepto refilar. Que espécie de discernimento se pode esperar que haja na selecção dos governantes?
As pessoas, grosso modo, vão votar porque serve de passeio de Domingo, porque muitos têm ainda a memória quando o voto não valia nada, outros porque acreditam que assim podem fazer a diferença, outros apenas porque tem que ser.
No entanto, ao fazê-lo, elegendo com maior ou menor convicção, há anos que estamos a validar políticos e politicas fracos. E agora temos a prova: não só o país está num estado miserável como as nossas expectativas morrem na praia quando se observa, a olho nú, quem nos resta.
Agarrado ao poder ou não, Sócrates tem uma força inacreditável. Parece uma barata que resiste ao acidente nuclear. Dá o corpo às balas. Não foge. Mas mente. A sua credibilidade, pelos seus actos, e pelo resto que fizeram nas suas costas, tem zero valor. E redenção? Nenhuma...
Entre o ping-pong de ataques e entradas a pés juntos ao Ken de Massamá, Sócrates ainda tem a desfaçatez de manter Ricardo Rodrigues. O LADRÃO de gravadores, o deputado que envergonha qualquer parlamento, o gajo a quem devia ter sido retirado o lugar na AR, ser expulso do PS e recambiado para a Madeira, vai novamente a eleições como se ontem, hoje e amanhã a sua reputação não tivesse cheia de nódoas. De óleo. Das que não saem. É este o exemplo do politico que nós precisamos, José Sócrates?
E não, não falo do Telmo do Big Brother. Se ser pouco culto fosse factor eliminatório, o hemiciclo estava a metade e nem teriamos o Sr. Silva como PR (temos, ainda, certo? A mediocridade e o seu silêncio inquieta-me para se não terá posto o dinheiro que ganhou com o BPN e com a venda da casa num offshore e tenha ja fugido, vivendo à conta da reforma da Drª Maria).
Telmo é um fait diver: Não está num lugar elegivel mas mesmo assim tem participação politica no PS da Batalha já alguns anos. Aparecer na TV num programa degradante mina-lhe as bases para uma carreira politica? Talvez, mas se fosse assim, que dizer de Santana? Ou de Fernando Seara, há anos e anos a discutir futebol? Certamente que Telmo pode não perceber de TIRs, de taxas de juro ou de derivados mas talvez saiba mais de eleitorado do que ... sei lá, Basilio Horta. Este percebe que eleitorado? O do CDS de outros tempos, os do PS mais à direita? Os dos empresários? QUEM?????
Enquanto isto, na Lapa reina o Woodstock. Só pode. Miguel Relvas faz-me lembrar o personagem do Matt Damon no "Talentoso Mr. Ripley". A sombra que tenta assumir a vida do lider carismático. O lider Ken, com a sua entourage Mattel, também se tem revelado um eximio aldrabão. Punhamos as coisas nestes termos: PPC fez todo o seu percurso na JSD e no PSD, depois "desapareceu" qual D. Sebastião para acabar uma licenciatura assim meio à pressa, e trabalhou como Administrador (adoro! primeiro emprego, administrador) no Grupo empresarial de Ângelo Correia. Ou seja, fez a escola TODA.
Como é que mesmo assim, e com a eleição praticamente entregue de mão beijada, consegue fazer tanta asneira atrás de asneira? É preciso ser-se incompetente. Mesmo.
Bom exemplo: escolher como cabeça de lista para Lisboa (alguma importancia terá o gajo seleccionado) um alucinado, que admite desconhecer o plano eleitoral do PSD, que assume sem pejo que se está a candidatar a Presidente da Assembleia da República e não a deputado. Tudo isto, sem uma gestão de crises SOS.
Não estamos habituados a que os politicos sejam tão brutalmente sinceros sobre as suas reais intenções. Fernando Nobre, o homem do tiro na cabeça, traz toda uma nova cultura para o forum politico. Aposta em todos os cavalos, alia-se a quem ontem criticou, tudo com um despudor que faz corar o AJJ. E com um tremendo ar de superioridade e distanciamento das "pequenas coisas".
Nisso é parecido com o Sr. Silva (ele é mesmo o Presidente ainda?). Se Portugal fosse o Titanic, a maioria dos tugas, como já escrevi em sede própria, iria andar na rambóia até dar com as trombas nas águas geladas, mas o Sr. Silva seria o primeiro a saltar para o barquinho a remos, e caladinho. Como os ratos.
O triste é, no fim das contas, bem somadinho tudo, a vida me vai correr mal. A mim e a muitos dos meus amigos, todos aqueles que tinhamos boa qualidade de vida, vontade de trabalhar e de nos desenvolvermos. Viagens, filhos, idas ao teatro ou à Zara, estão adiados sine die. E para as outras pessoas, que não tinham as mesmas oportunidades que nós? Pessoas que já viviam no elástico mas mesmo assim de cabeça erguida e passo firme, aguentando sem cair?
E esta gentalha está-se literalmente a borrifar para isso. Olha para o lado e só vêm a vaidade da sua imagem na sombra. Falam de esforço nacional para caírem bem, colocam um ar afectado de preocupação fingida mas nas suas cabecitas pouco desenvolvidas só há espaço para pensar em como distribuir os lugares que vão ficar vagos, de forma a pagar favores, ou a que outros lhe fiquem a dever agradecimento, ou como ajudar os caciques que giram à sua volta.
País de miseráveis.
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