Os meus pais educaram-me para ser independente. Possibilitaram-me que eu estudasse tudo e mais um par de botas. Apesar de orgulhosos, nunca agiram como se eu fizesse mais do que a minha obrigação eu ter boas notas: ora se era notório que era inteligente e não fazia mais nada na vida, estúpido seria ser um "3" ou um "12".
Nunca me fomentaram a ideia do casamento como um objectivo central de vida. O que eles preconizavam era ter uma carreira, a minha casa, poder pagar as minhas contas e que eu viajasse muito (coisa pra' qual mostrava jeito).
Durante muitos anos agradeci quer não me tivessem tornado numa noiva em potência desde "piquena". Tipo a Mónica do "Friends". Daquelas que já nascem com o véu agarrado ao tornozelo.
Hoje em dia, já teria mas é agradecido se me tivessem tirado da escola e me tivessem posto numa academia para gordos a fazer ginástica 12 horas dia, até mudar a minha genética, aprender a conviver com "apenas" comer uma maçã de manha, uma sopa ao almoço e leite ao jantar e sobreviver. Ou seja, terem-me dado tratamento de candidata a miss Venezuela. Desde pequena, exercícios para ser mais alta (presa nos espaldares, horas a fim), tratamentos para reter o meu louro Cláudia Schiffer, mamas bem trabalhadas, remoção de 2 vértebras para alongar a figura. Teria sido muito mais bem sucedida, quem sabe hoje podia estar ao nível da Cristina Ferreira. Ou de mulher de algum jogador da bola, dos que ganham dinheiro de facto, e o meu dia a dia seriam massagens, piscina e enchimento das nádegas (não é nada sexual, é um processo de empinanço do rabo).
Assim como assim, onde está a carreira? Durante uns anos ganhei bom dinheirinho mas prostitui a alma. Aturei pessoas do mais estúpido, mal formadas e mentirosas que existem. Levantava-me cedo todos os dias e trabalhava até tarde. Pra' quê? Só serviu para sentir-me miserável e odiar-me. Para hoje não conseguir levantar o cú da cama sem ser em sacrifício. Fiquei traumatizada. E sou como aquele atleta do Sporting: "de manhã quero é caminha"!
E, sim, viajei. Mas ao dia de hoje nem carreira, nem vocação, nem puta ideia nem passeio. Receita perfeita para as sessões de terapia. Sinto que a minha vida acabou (que é, curiosamente, o que sente muita gente que casa!)
As miúdas que cresceram a imaginarem-se de vestido branco cheio de tule, da Penhalta, a caminhar numa passadeira encarnada ao som do Avé Maria, quiçá nos Jerónimos (vejam como a minha mente começa logo a divagar para caminhos da possidonice) e a contar o dinheiro ganho, no fim da festa, devem ser mais realizadas, mais felizes. Digo eu. É mais fácil casar do que ter uma carreira.
Porém, prefiro não me meter nesses carnavais. Todas as noivas que acompanhei assim mais de perto no pré boda, transformaram-se, durante umas semanas / meses, em seres mesquinhos, histéricos, interesseiros e com muito mau feito.
Uma noiva que conheci tinha uma lista fictícia no El Corte Ingles com coisas que NÃO queria e que depois iria trocar por um mega Home Cinema. Aparentemente, é algo recorrente! Os convidados VIP não dariam tostão para o home cinema (que é um presente impessoal) mas comprariam qualquer coisa (havia 3 fondues na lista!). Quando ela me alertou para o "esquema" e para o que realmente da lista era sua intenção manter, comprei-lhe propositadamente a segunda peça mais barata. A duas semanas da boda ela ligou-me a perguntar se o meu recém namorado (na altura), que era meu acompanhante, mas q ela não conhecia, ainda ia comprar o presente ou no el corte inglês ou na agência de viagens. É preciso ter LATA!!!
Na sua cabecinha sem adjectivo, o meu presente não cobria certamente a "entrada" dos dois na festa. E durante meses levei bocas acerca de "pessoas" que iam a casamentos e não davam um valor condizente. "Bocas" que ignorei sempre. Porque ela era minha amiga, porque estava momentaneamente louca e porque não queria acreditar que uma gaja armada ao mais "tia" possível, pudesse apenas estar apenas orientada ao tostão. E ser tão pouco elegante. Afinal não seriamos convidados, seriamos contribuintes! Na altura, fiz uma das coisas que faço melhor: caguei para ela.
O casamento continua a ser algo que pessoalmente dispenso. Porém hoje faz mais sentido porque vivo numa relação (ao que parece, longa). Só que o Moço, que faz questão destes pequenos apontamentos do "charme discreto da burguesia", gosta de tudo aquilo que eu não gosto numa boda: rotina e tradição.
Mesmo tendo uma madrinha que "acha" que me daria um Vera Wang (como se houvesse modelos que me servissem... mal empregado Vera Wang) e um padrinho que há anos que diz que me oferece a aliança Cartier, eu queria mesmo era ... Viajar.
E descobrir algo para fazer que me satisfaça e dê dinheiro (sem que me tenha que levantar cedo).
Para casar basta ir à conservatória e almoçar no topo do Hotel Sheraton. Chega.
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