Longe de mim querer parecer a Fátima Lopes ou a Júlia Pinheiro mas há historias que me tocam mesmo muito.
Há menos de 3 anos, S. era uma bem sucedida executiva que, depois de anos numa multinacional, onde fez carreira mal saiu da faculdade, liderava uma unidade de negócio específica. As coisas corriam bem, tinha uma boa equipa, autonomia e resultados.
Entretanto, a casa-mãe no centro da Europa decidiu vender aquela unidade a um concorrente, mundialmente, e os novos donos consideraram que o investimento em Portugal era desnecessário face ao retorno e face à mega estrutura que existia em Espanha.
S. deu por si, em poucas semanas, desempregada. A empresa à qual originalmente pertencia não tinha lugar para ela e restou-lhe a indemnização e arrumar a trouxa.
Apesar de tudo não foi um drama. Tinha 33 anos, a quantia que tinha recebido era um valor seguro e podia dedicar-se uns tempos ao filho, de 2 anos enquanto procurava opções.
A partir daqui, uma merda.
Com tempo livre foi fazer exames de rotina daqueles que adiamos porque temos sempre imenso que fazer. Quase de imediato, diagnosticaram-lhe cancro.
Quem já acompanhou alguém sujeito a tratamentos de radio ou quimioterapia sabe o desgaste físico e emocional pelo qual os pacientes passam. É igualmente fortíssimo para quem está próximo, claro, mas nada comparável a quem sofre na pele.
A meio do processo o marido desistiu. Era um cenário demasiado intenso para ele aguentar sobretudo porque andava a adiar comunicar-lhe, desde que S. tinha ficado desempregada, que o casamento tinha acabado para ele . Já não gostava dela logo não se sentia obrigado a suportar aquele contexto. E saiu de casa.
Neste momento, o fundo de desemprego está prestes a acabar. Felizmente, o cancro está aparentemente morto mas ainda esta sob monitorização. O divorcio é oficial.
Com este percurso, S. reviu várias vezes o filme e as suas expectativas mudaram. Face às pessoas, face a cada dia que acorda e beija o filho. Apesar das contrariedades, das lágrimas e de ainda "bater mal" em certos momentos, agora quer redescobrir-se.
A vida é demasiado curta, com episódios efémeros que se sucedem, para se ser o que não se é nem o querer ser. Creio que foi o que mais impressionou pela positiva na história de S. Depois de tudo que se passou, e no meio de uma crise "colossal", recusa-se a voltar à fracção que antes era uma certeza.
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