Há 3 anos que não tenho férias. Como o nome indica. Com saída do meio ambiente “normal”, com praia, sol, ou cidades novas, não fazer nada ou correr “calçada”. Fazer a mala e partir.
A ultima vez que estive fora uma semana inteira, num hotel (era mais uma pousada no interior alentejano), com piscina, livros e pequeno almoço daqueles à maneira foi em 2009. E foi uma semana de tensão, num clima pessoal complicado, de preocupação e já alguns (demasiados) quilos a mais. Se me diverti: nem por isso. Descansei, li muito, não se fazia nada, a a piscina era mínima e às vezes era atacada por crianças em bandos e aos berros. Não era o ideal, mas era bom. A minha cabeça é que estava demasiado a bater mal para estar ali.
O ano passado, na transição de trabalho (rica ideia, pois então!), em Setembro, já só estava destinada a ir algures sozinha, optei por não ir. Este ano, não vamos sequer falar no nebuloso contexto da minha vida neste momento.
Tirando umas ocasionais idas a Viseu, alapar-me em casa de amigos por alguns dias, Lisboa tem sido sempre o meu poiso. Ir ao médico, ao cinema, aos bancos (fugir deles, melhor dizendo), beber café com alguém que eventualmente esteja por cá e dedicar-me a dormir, ler, dormir.
A conjuntura tem sido propicia por “n” factores. Há questões profundamente intimas que o justificam, desencaixe de agendas e, sem ser de somenos importância (bem pelo contrário), os constrangimentos orçamentais. Não é um ataque de Calimero, são factos.
Estar em Lisboa nesta época tem as suas vantagens. Não há tanto transito, há menos pessoas para brunch ao fim de semana, menos espectadores irritantes no cinema. Reina uma certa “paz” quebrada nas zonas mais apelativas pelos turistas. Até se está bem. Mas não é a mesma coisa. A mente habituou-se ao faz-a-mala-confirmar-se-temos-tudo-leva-mais-um-livro e ir. Só no movimento de fechar a porta, assegurar que o gás ficou desligado, dizer mentalmente adeus até daqui uma ou duas semanas, há um "peso" que sai dos ombros. Parece que nos é dada autorização para fazer um pause-still e, agora sim, vamos ter uns dias como devia ser a vida.
Por muito que seja ou excessivamente aborrecidas, entre a piscina, a leitura e arranjar um sitio para jantar, ou muito cansativas entre a praia, o vir da praia, banho, mudar de roupa e noitada, a paragem das férias dá-nos uma falsa ilusão de que, ok, nem sempre é fácil o dia-a-dia mas temos estes momentos de "caga nisso". Mesmo que o façamos em casa, o efeito "caga nisso" é quase nulo. Dormimos na mesma cama, vamos tomar o pequeno almoço a sítios pelos quais passamos o ano inteiro, a televisão até è a mesma. E o que eu dava para ir para um sitio sem metro ou autocarros.
Agora que gradualmente estão todos que conheço de partida, e pensando pragmaticamente, não sei muito bem quando vou voltar a ir de férias. Do mesmo modo que a mente se habitua a estes interlúdios que servem para descansar, repor energias, conhecer novos lugares ou cair na rambóia, também, eventualmente, se desabituará.
Há milhares de pessoas que, pior que eu, não tiveram hipótese alguma de ter férias. Dos sentimentos delas não posso opinar, mas eu sei que já estou numa fase em que só poder dormir até à hora que for e andar de pijama, é triste reconhecer, lá terá que ser e dá-me algum conforto.
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