É engraçado ver nos blogues (sobre moda) como há mulheres, mais novas ou mais velhas, que conseguem escrever tratados inteiros sobre a Primark, sobre a mais normal tshirt da Blanco ou, para o toque de classe, o sapato mais pavoroso do Louboutin, mas ignorando quem são algumas pessoas de quem expôem fotos; ou não entendem a origem de determinadas imagens e nem sequer o que representam e que, por acaso são famosas, tipo:
Eu sei que o generation gap é lixado e há pouca paciência para a ignorância dos mais "joves" mas a curiosidade é transversal a todas as idades. Não sabem, pesquisam.
Este facilitismo geracional (que afecta também a minha geração) de "não sei, vou escrever uma baboseira porque é uma lata de sopa" é confrangedor.
Há poucos anos, numa conversa com colegas de trabalho, eu e a MM íamos tendo uma síncope perante um quadro de misérias absoluto. Eu sou mais velha que a MM mas ambas estudámos Relações Internacionais, aquele curso que não têm saídas profissionais, mas obriga-nos a sair de uma aula de Direito, para uma de Demografia, uma de Inglês, outra de Economia Internacional e o nosso mindset sempre a mudar como se fossem lençóis em hotel. Ou seja, era assumido que nós sabiamos "stuff" (cultura geral, no mínimo) e nós éramos obrigados a estar atentos a outras coisas que não a novela ou o Big Brother (antes não havia programa dos Gordos).
Num momento de dolce far niente no trabalho, eu e a MM recriámos uma situação que se tinha passado no Quem quer ser Milionário, no GOZO.
A questão era: quem foi o primeiro ministro sueco assassinado nos anos 80. As opções de resposta eram: a. Ingmar Bergman; b. Sven-Goran Eriksson:c. Matts Magnunson; d.Olaf Palme.
Tal como no programa, o resto da nossa malta olhava para nós no total vazio. Claro, que Olaf Palme não lhes dizia nada. Eriksson e Magnunson eram vagamente conhecidos (pelo futebol mas não havia ideias claras se eram contemporâneos, se tinham jogado na mesma equipa, se tinham estado em Portugal; note-se que o Sven-Goran era, na altura, apenas o seleccionador de Inglaterra).
O momento gritante-vou-lhe dar com marretada nos cornos-ó ignorante da treta dá-se quando uma das "piquenas", que arrotava à boca cheia que os progenitores eram muito cultos e tinham cargos importantes no Governo Regional da Madeira), do alto do seu narizinho empinado, afirma com a maior das arrogâncias que não tem que saber quem é o Ingmar Bergman porque sendo este um realizador (informação fornecida por nós), ela não via nem contava ver filmes dele.
Não sendo eu fã do Ingmar Bergman, apeteceu bater-lhe com o sapato naquela cabeça tola, a ver se lhe abria a mente à magnifica experiência de "aprender", não para ter uma nota, mas para SABER, valor completamente desvalorizado. O conhecimento, o prazer de saber coisas novas tornou-se cada vez mais raro.
Assim estão estas pseudo fashionistas: nunca fizeram sopa de tomate, não sabem o que é aquilo. E nem querem mexer o rabiosque à procura. A Olivia Palermo, certamente sabe. Até as Kardashians!
PS. o senhor que foi assassinado foi o Olaf Palme. Para mais informações, consultem a Wikipedia.
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