(...) "a ilusão mais comum e prejudicial que assolava [as pessoas] era a noção de que deviam, de uma maneira qualquer, e no decurso normal dos acontecimentos, ter intuído - muito antes de terem concluido as suas licenciaturas, constituido familia, comprado casas e chegado ao topo da carreira em escritórios de advogados - o que deviam ter feito das suas vidas da maneira mais adequada. Sentiam-se atormentados pela noção residual de que, devido a qualquer erro ou estupidez da sua parte, teriam passado ao lado da sua verdadeira "vocação".
(...)
(...)
Deixei a empresa de Symons com uma nova percepção de crueldade irreflectida, discretamente presente na magnânima presunção burguesa que nos leva a acreditar que todos podemos encontrar a felicidade através do trabalho e do amor. Não se trata da questão de essas duas entidades serem incapazes, invariavelmente, de nos proporcionar um sentido de realização pessoal mas sim, e apenas, do facto de quase nunca o fazerem. E quando uma excepção é interpretada erroneamente como uma regra, os nossos infortúnios individuais, em vez de nos parecerem aspectos quase inevitáveis da vida, pesar-nos-ão como maldições em particular. Ao negar o lugar natural reservado à ansiedade e ao erro na condição humana, a ideologia burguesa nega-nos a possibilidade de consolação colectiva pelos nossos casamentos turbulentos e pelas nossas ambições por explorar, condenando-nos a sentimentos solitários de vergonha e tormento por termos falhado teimosamente em tornarmo-nos quem somos. "
Alain de Botton, Alegrias e Tristezas no Trabalho
Irra, que este homem é mesmo esperto!
Comentários