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Da outra vida

@boudoir.photography

Acreditas noutras vidas? Quero tanto acreditar que sim. Que noutra vida nos cruzámos e desde o início me quiseste ao teu lado. Que não tive que sofrer em silêncio desde o dia que me rompeste todas as comportas, que me invadiste com a bravata dos 18 anos e de quem come o mundo, a arrogância de quem tem uma atracção inequívoca. E eu à distância, sempre próxima das tuas conversas, sempre à mão dos diálogos sem fim e sobre tudo, mas como se não existisse na tua dimensão. 

Noutra vida, os anos passaram e mesmo que nos separássemos, o reencontro seria natural, de um amor que vagueou e voltou ao sítio certo, com maduro regresso e sem abalo da interrupção. Os teus beijos seriam porto de abrigo. As noites animadas pela recolha à leitura, pelas discussões existenciais acaloradas, pelas caídas selvagens no sofá. Seríamos movidos pela fome de mundo, pela curiosidade infindável, pelas ideias em constante liberdade. 

Nessa vida não teria que pensar em ti como uma cicatriz não sarada, que por momentos desperta e magoa como se fosse faca com ponta aquecida a entrar-me pelas costelas até não respirar. Não serias alguém que está sempre a aparecer-me pelas voltas do destino mas que nunca está lá e, na verdade, de quem nunca me liberto. 

Nas tuas imperfeições, defeitos, incompatibilidades, na tua clara rejeição não consigo buscar os argumentos para me livrar do teu sopro no meu pescoço e a pressão da tua boca na minha. 

Noutra vida, que tem que existir, esse teu riso de cigano sacana não seria uma memória dolorosa. Seria a minha mensagem de bons dias; o meu afago de dorme bem. 

Se tivermos outra vida, em que existimos um com o outro, não viverei marcada pela negação, por um sentimento dilacerante sempre não correspondido, pelas outras que amas, por este peso forte e que não finda, inexplicável pelos anos que perdura em mim e pelo rasto de contaminação que deixa. 


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