"Onde vais?" Não se vislumbrava claridade e ela já vestia a camisa, depois o blusão, sem som, numa ponta da cama mal iluminada pelo candeeiro da rua. -"Não é para ficar." Tocou-lhe ao de leve na mão, impedindo-o que a agarrasse. "Falamos depois."
Puxou-a sem a deixar erguer-se com uma força que nascia mais da pancada da partida inesperada do que do orgulho ferido. Porque partia ela? Acossado por um panico súbito agarrou-se à ideia que reencontrá-la fora um sinal.
Enfrentou-o com nudez rude de olhos cansados, impenetráveis, sem vacilar. Magoava-o, de modo consciente, gélido. Sem arrependimento, sem remorsos, sem questionar.
Esperara tempo demais, quisera-o demais, tinha-lhe sentido demais a falta mesmo quando ele a desconhecia propositadamente. Agora não o conseguia ter sem dor, sem brasa acesa pelo tormento dos anos. " Falamos um dia destes."
Nem todas as histórias de amor se escrevem a direito. Nem se submetem à mais arriscada das emoções. Nem todos se deixam conquistar depois de sofridos.
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